sábado, 30 de junho de 2018

Um homem livre

    Destacado militante anti-fascista, preso várias vezes pela PIDE e fundador do MDP/CDE, no prosseguimento de uma intensa actividade política José Manuel Tengarrinha (1932-2018) foi depois do 25 de Abril deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República.
     Licenciado em Histórico-Filosóficas, foi perseguido e prejudicado pelo Estado Novo na sua vida docente e no jornalismo. Professor Catedrático jubilado da Faculdade de Letras de Lisboa, desenvolveu uma obra muito importante sobre os movimentos populares agrários e o liberalismo do século XIX, tendo sido também o grande impulsionador dos estudos sobre a imprensa em Portugal, áreas em que deixou um legado de fundamental. 
                     
      Homem livre, firme e aberto, amante da liberdade e da democracia, a sua vida e a sua obra permanecem como exemplos estimulantes para todos. Neste momento de grande tristeza, partilho sentidamente a dor da família, apresentando os meus profundos sentimentos a sua irmã, Margarida Tengarrinha, ela também destacada militante anti-fascista. 

sexta-feira, 29 de junho de 2018

De urgência

    Dez anos depois de "O Pesadelo de Darwin"/"Le cauchemar de Darwin" (2014), o austríaco Hubert Sauper estreou "We Come as Friends"/"Nous venons en amis" (2014), outro documentário de quem tinha já feito "O Diário de Kisongani"/"Kisongani Diary" (1998).
     Filmado de urgência quando dos acontecimentos que precederam o referendo à independência do Sudão do Sul, impressiona pela improvisação, o esforço de captar os que estão envolvidos de perto nos acontecimentos, que têm de aceitar entre eles os estranhos de uma equipa de filmagem para que esta possa fazer o seu trabalho.
                     
      Mostrando o desespero, a angústia, o medo mas também a esperança e a determinação dos habitantes, faz-nos mergulhar em pleno conflito, com os que se encontraram nele envolvidos e os que dele foram vítimas, sem esquecer os esforços de reconstrução.
     O envolvimento pessoal e o trabalho do realizador, que incluiu a construção do avião que da Europa ali o levou, é notável e valoriza o filme que daí nasceu nas piores condições com que teve de lidar. O mesmo avião permitiu soberbas tomadas de vista aéreas.
      Sem contemplações e sem distância, naquelas condições em que mostra o trabalho da morte e da destruição mas também o daqueles que procuraram levar assistência e pacificar, questionando  intenções neo-coloniais num país tão rico em petróleo, é um filme indispensável, distinguido em vários festivais de cinema e ainda disponível no site do Arte, que o mostrou na semana passada.

terça-feira, 26 de junho de 2018

O que faltava

   Martin Rejtman é considerado o fundador do cinema novo argentino, em que terá precedido Lucrecia Martel, Lisandro Alonso e Pablo Trapero na longa-metragem. Não conhecia nada dele e a retrospectiva da Cinemateca Portiguesa do final da semana passada permitiu-me preencher essa lacuna.
    De uma cinematografia conhecida sobretudo por Leopoldo Torre-Nilsson na segunda metade do século XX, o cineasta, trouxe um rejuvenescimento muito oportuno a partir de 1992, depois de ter feito a sua formação nos Estados Unidos, com filmes pessoais e insólitos, com muitos diálogos, humor e sentido do absurdo. Diz-se ele influenciado pela screwball comedy americana dos anos 30 e 40, nomeadamente de Howard Hawks e Preston Sturges, mas o meio familiar em que cada um dos seus filmes se desenvolve remete para o universo de Yasujiro Ozu.
                     
    Ora em volta de motorizadas como em "Rapado" (1992), de um nome comum a duas personagens como em "Silvia Prieto" (1999), de automóveis ou luvas como em "Los  guantes mágicos" (2003), cada um dos filmes de Martin Rejiman parte de um ponto que depois abandona para a ele regressar mais tarde, como em "Dos disparos" (2014), ou só encontra o seu motivo temático passada uma hora com personagens que sofrem de depressões "emocionais" ou "orgânicas", como em "Los guantes mágicos", e conclui-se sempre de forma inesperada. Outra constante é a voz off narrativa de uma das personagens, o que confere um cariz narrativo e estético próprio aos seus filmes.      
    Numa obra escassa, merecem especial atenção as duas médias-metragens feitas para a televisão, "Copacabana" (2007), sobre imigrantes bolivianos na Argentina, e "Entrenamento elemental para actores" (2009), sobre aulas de formação de actores para crianças, que explicitam a ideia de ritmo que percorre também as longas. Um ritmo que advém das palavras, dos diálogos, mas também de uma montagem marcada que implica a duração justa de cada plano e o ritmo do todo, que a irrupção da música de discoteca amplia em estrépito.         
                       TwoShotsFired
    Mas os  próprios planos têm uma riqueza de composição notável, centrados na figura humana expectante ou disposta para o diálogo, de pé ou sentada, num espaço cenográfico muito bem preenchido, o que faz com que as transições de plano surjam sempre muito bem calculadas e executadas, cada uma delas chamando pelo seu contrário, que a própria voz off acompanha, mesmo se com atraso. E a crise, também económica, da sociedade argentina, está sempre presente.
    Pelo tom directo e seco, elíptico, e pelos assuntos que trata, embora diferente faz-me lembrar o português Manuel Mozos. Pelo que pude ver, Martin Rejtman, que trabalha sempre sobre argumentos seus e por vezes também a partir de livros seus, é, efectivamente, um dos grandes cineastas da actualidade, que está à altura da sua geração no cinema novo argentino e vale a pena conhecer.    

sábado, 23 de junho de 2018

O clube dos novos

     Devo assinalar aqui o aparecimento nos últimos tempos de obras de considerável interesse da autoria de novos autores.
     Na área do cinema, "Fotografia e Cinema Moderno - Os Cineastas Amadores do Pós-Guerra", de Luís Mendonça (Lisboa: Colibri, 2017, já em 2ª edição), uma obra do maior interesse e pertinência científica; "O Trabalho do Actor na Obra de John Cassavetes", de Filipa Rosário (Lisboa: Documenta, 2016), que recupera um actor e cineasta independente americano por um dos aspectos em que ele foi mais importante, como reconheceu Gilles Deleuze; e "Uma Nova História do Novo Cinema Português", de Paulo Cunha (Lisboa: Outro Modo, 2018), uma curiosa e inédita abordagem daquela época do nosso cinema.                      
                                    Bertrand.pt - O Trabalho do Actor na Obra de John Cassavetes
     Em poesia acaba de sair "Varanda de Inverno", de Marta Chaves (Lisbooa: Assírio & Alvim, 2018), um primeiro livro colocado sob a égide de Maria Gabriela Llansol e Herberto Helder que revela uma nova sensibilidade e expressão poética, importante e promissora. Em prosa "Meio Homem, Metade Baleia", de José Gardeazabal (Lisboa: Companhia das Letras, 2018), o primeiro livro de prosa  de um autor que em poesia tinha publicado "história do século vinte" (Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2015), que recebeu o Prémio Vasco Graça Moura, e "Ultimato", de Diogo Vaz Pinto (Lisboa: Maldoror, 2018), mais um livro deste poeta inclassificável, de escrita cerrada e exigente.  
                                    https://images.portoeditora.pt/getresourcesservlet/image?EBbDj3QnkSUjgBOkfaUbsDn0uKFvBQn3KvyviUM0hRouInXp8Ea99SxqHIV6XNCH&width=255
     Estes simples exemplos provam, entre outros, que há uma nova geração de investigadores e de escritores a despontar com obras do maior interesse, que devem levar a esperar o melhor do "clube dos novos" em Portugal.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Bastante bom

    "Blade Runner 2049", do canadiano Denis Villeneuve (2017), é uma sequela, 30 anos depois, do filme primitivo de Ridley Scott, "Blade Runner: Perigo Iminente"/"Blade Runner"(1982), uma referência ainda hoje do filme de ficção científica. Inevitavelmente aquém dele mas com alguns motivos de interesse especial.
   Com argumento de Hampton Fancher e Michael Green baseado em história do primeiro, acompanha K-Joe/Ryan Gosling na demanda das suas próprias origens, perdidas, encontradas a partir da memória de um brinquedo que remete para o seminal "O Mundo a Seus Pés"/"Citizen Kane" de Orson Welles (1941) para depois serem alienadas a favor da irmã.
     Menos filme de acção do que o primeiro, o realizador explora o tempo parado e longo, como em "O Homem Duplicado"/"Enemy" baseado em José Saramago (2013), o que, inesperado, não joga com o anterior "Blade Runner". De facto, onde antes havia movimento, acção, agora encontra-se expectativa, forçada, tudo em favor de uma ideia narrativa rebuscada, embora faça sentido.  
                    
      Sem estar à altura do filme de Ridley Scott, cumpre para o que se pode esperar nos dias de hoje, com bons efeitos especiais centrados no protagonista e em quem com ele contacta. Por exemplo, a mulher virtual e a mulher real, se bem que óbvio está bem explorado, embora a mulher actual igual à anterior menos na cor dos olhos seja melhor como ideia. Destaque para o fechamento sobre si próprio do protagonista, figura característica de Villeneuve.
     Chamando por novo filme, a que ostensivamente pisca o olho, sofre do ego proeminente do realizador, melhor em "Sicário - Infiltrado"/"Sicario" (2015) do que nesta encomenda despachada com profissionalismo e tom pessoal forçado, mas sem dúvida presente com a qualidade da realização.
     No fim de contas, hoje em dia os filmes de ficção-científica parecem-se todos uns com os outros. Questões entre gerações, entre pais e filhos, de busca das origens, que talvez seja o que suscita maior interesse, de ditadores e revolucionários. E é bom voltar a ver Harrison Ford como Dekkard.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Jogar de novo

     O actual "Eva", de Benoît Jacquot com Isabelle Huppert (2018) recupera e revisita o filme homónimo de Joseph Losey com Jeanne Moreau (1962) a partir do romance de James Hadler Chase de forma exemplar.
      A mesma protagonista, agora mais velha, acompanhante de luxo, com o mesmo apaixonado, Bertrand/Gaspard Ulliel, com o mesmo esquema pulsional, identificado por Gilles Deleuze em "A Imagem-Movimento". Um estilo já praticado por Jacqus Doillon em "Diário de uma Criada de Quarto"/"Le journal d'une femme de chambre" com Léa Seydoux (2015), moldado sobre o também pulsional filme homónimo de Luis Buñuel com Jeanne Moreau (1963).
    O percurso dele torna-se muito acidentado, por entre aldrabices, simulações e mentiras, enquanto ela, esfíngica, o magnetiza de uma forma de que ele não pode nem quer libertar-se .Apenas Veneza é substituída por França e o teatro se evidencia com grande pertinência - como aliás o cinema em final de sessão.
                                            
     O cineasta volta a alternar o plano médio com planos aproximados de rosto, volta a usar os fétiches (o brinco, o chicote) e a cores revisita um imaginário que Losey levou por caminhos originais, reinventando-o como novo, que para a maioria dos espectadores será. O filme começa por um homicídio por omissão, que deixa aberta a sugestão de homossexualidade, e termina sobre um homem esfarrapado que tentou fazer-se passar pelo que não era, tentando inventar canhestramente a partir da realidade que vive e da personagem de Eva.
      Com Julia Roy como Caroline, a namorada de Bertrand, e Marc Barbé como Georges, o marido de Eva, preso por traficâncias em obras de arte, o filme tem argumento do realizador e de Gilles Taurand, fotografia de Julien Hirsch, música de Bruno Coulais e montagem de Julie Gregory.
    Benoît Jacquot volta a definir o espaço narrativo e cinematográfico em que se move na actualidade com actores excelentes e uma narrativa que continua pregnante, intemporal, tratada exemplarmente em termos interpretativos e técnicos (sobre o cineasta ver "A festa da ópera", de 4 de Fevereiro de 2018).

sábado, 16 de junho de 2018

Os vivos e os mortos

       "As Guardiãs"/"Les gardiennes", de Xavier Beauvois (2017), é um belo filme passado entre 1915 e 1920, enquanto decorria a I Guerra Mundial, sempre presente embora sempre fora de campo, e logo a seguir. Nela morre Constant Sandrail/Nicolas Giraud, e a maneira de uma mãe, Hortense Sandrail/Nathalie Baye, receber num filme a notícia da morte de um filho na guerra não varia senão de ângulo desde John Ford.
       O outro filho, Georges Sandrail/Cyril Descours, volta para a guerra e troca correspondência com Francine Riant/Iris Bry, empregada da mãe. No regresso faz-lhe um filho mas a mãe e ele desconfiam dela. Solange/Laura Smet, casada com Clovis/Olivier Rabourdin, é a filha que espera. Marguarit Sandrail/Mathilde Viseux ganha um marido que desdenhará ser pai como o dele, Henri Sandrail/Gilbert  Bonneau.
       Com os homens ausentes são elas quem se encarrega de tudo, em casa mas também nos campos, colheitas, arroteamento e tratamento das terras, sementeiras, e tudo isso está muito bem no filme entre o espaço, as actrizes, os objectos e a câmara, acrescentado o valor "As Guardiãs". A guerra só surge no sonho de Georges em casa. E no final discute-se a herança de Constant.
                                  Les gardiennes
         O argumento do cineasta, Marie-Julie Maille e Frédérique Moreau a partir de novela de Ernest Pérochon permite ao realizador e aos actores um excelente trabalho em contenção, num filme que não sei porquê me faz lembrar "Jules et Jim" de François Truffaut (1962), embora a preto e branco passado justamente durante a mesma guerra. 
         A fotografia de Caroline Champetier tem uma iluminação assombrosa, que a torna por vezes pictórica, a música de Michel Legrand é parcimoniosamente utilizada e a montagem é da co-argumentista Marie-Julie Maille num excelente filme com produção de Sylvie Pialat e Benoît Quainon. 
        Com esta excelente equipa, Xavier Beauvois dá continuidade a uma obra muito boa em que avultam "Dos Homens e dos Deuses"/"Des hommes e des dieux" (2010) e "O Preço da Fama"/"La rançon de la gloire" (2014). Uma obra que se percebe melhor no contexto do cinema francês.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

O melhor da animação

   Por altura da abertura do Festival de Annecy, o Arte apresentou na noite de quarta-feira três filmes de animação, dois deles franceses, "Abril e o Mundo Extraordinário"/"Avril et le monde truqué", de Christian Desmares e Franck Elinci  (2015), e "Un homme est mort", de Olivier Cossu (2017), ambos articulados com a banda desenhada. A noite terminou com o  famoso "La ferme des animaux"/"Animal Farm", de Joy Batchelor e John Halas (1954), baseado em George Orwell, uma pérola rara do cinema de animação inglês.
                      
   O primeiro, baseado em banda desenhada de Jacques Tardi de acordo com o seu universo e o seu estilo sobre argumento de Benjamin Legrand e Franck Elinci, trata de uma ucronia que salta do século XIX para o XX elidindo os acontecimentos históricos e inventos intercorrentes, com Avril, Julius e o cão Darwin em busca dos pais dela, cientistas desaparecidos que trabalhavam num projecto de soro da invencibilidade. Tem humor e terror e está muito bem feito, com apuro e galhardia segundo uma estética de fantasia.
                      Un homme est mort
    O segundo baseia-se num caso real de um grevista assassinado pela polícia em 1951 e da reacção dos seus camaradas, animada por imagens do cinema do que se segue filmadas pelo cineasta René Vautier, que são mostrados à comunidade operária. Tem argumento de Kris, Guillaume Mantalent e Sebastien Oursel baseado em banda desenhada de Kris com desenhos de Etienne Donadeau, e com uma estética de animação diferente, realista, tem o especial interesse de se basear num caso real nunca desvendado.
                    
    O último baseia-se numa obra literária famosa do século XX, que recriada em imagens de época da animação mantém todo o potencial anti-totalitário que animava o original. Vistos em desenho animado, os porcos que dominam são tão odiosos como os humanos dominantes, adquirem vida própria e suscitam a revolta dos outros animais, por eles dominados, mal tratados e iludidos com falsas promessas. 
    Ao seu melhor nível, o cinema de animação foi e continua a ser uma expressão cinematográfica decisiva, excelente para fazer passar todo o tipo de histórias, de situações e de ideias de forma artística. O que estes três filmes agora programados pelo Arte, muito diferentes uns dos outros, confirmam sem sombra de dúvidas.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

O regresso do passado

     Baseado numa peça de teatro, "Blackbird" de David Harrower, também argumentista, "Una - Negra sedução"/"Una", de Benedict Andrews (2016), é um filme perturbador na sua secura narrativa, nas suas interpretações e na contenção da sua realização.
    Anos depois de uma relação com Ray/Ben Mendelsohn quando ela tinha treze anos, Una/Rooney Mara procura-o para lhe pedir explicações. Ele vive sob o nome de Peter e trabalha numa fábrica, casou e tem uma vida normal, aliás com dificuldades profissionais. Vai ser nos cenários despidos da fábrica que eles recordam o passado e sobre ele se questionam e explicam um ao outro. Já perto do final ela tenta intrometer-se na vida familiar dele, acabando por o questionar também aí.
                      Embate entre vítima e algoz é enfraquecido por diálogos ruins
 (Mares Filmes/Divulgação)
     Os diálogos são muito bons e acusam o a sua origem teatral sem qualquer problema, num filme com todos os elementos de um bom filme, seco, duro e sem contemplações sobre a diferença de idade entre um homem e uma mulher que, uma vez, tinham tido uma relação única. 
     Com excelentes interpretações dos protagonistas, Una também Ruby Stokes no passado, tem fotografia de Thimios Bakatakis, música de Jed Kunzel e montagem de Nick Fenton. 
     Quando o passado irrompe no presente estala o conflito que no passado tinha começado sem solução e o resultado é arrasador.

sábado, 9 de junho de 2018

Era uma vez Solo

     "Han Solo: Uma História de Star Wars"/"Solo: A Star Wars Story", de Ron Howard (2018), reconduz-nos ao início da personagem/Alden Ehrenreich, na sua juventude, quando lhe foi acrescentado ao nome próprio, Han, o apelido, Solo.
     Enquanto ele deixa para trás Qi'ra/Emilia Clark, Beckett/Woody Harrelson perde Val/Thandie Newton, antes de embarcarem ambos numa missão arriscada por conta de Dryden Voss/Paul Bettany, para o qual Qi'ra tinha afinal passado a trabalhar. Com eles vão o fundamental jogador e piloto Landa/Donald Glover e o inicial Chewbacca/Joanas Suotamo.
     Com uma estrutura de grande forma da imagem-acção de Gilles Deleuze, western e filme de gangsters confundidos, e personagens bem definidas com destaque para Beckett, o homem da duplicidade e da traição, e para Qi'ra, a ambígua que não esquece nem o amado nem a ambição de poder, o filme desenrola-se sem enfado em volta de uma personagem tornada carismática quando mais velha por Harrison Ford.
                          Crítica do Filme Han Solo Uma História Star Wars
        Embora com bons efeitos especiais, estes não ofuscam o interesse da narrativa, que se mantém de início ao fim, sobre argumento de Jonathan e Lawrence Kasdan a partir das personagens criadas por George Lucas. Sempre com as melhores soluções para os maiores imbróglios, com humor e optimismo mais um povo escravizado comandado por uma ruiva, Enfys West/Erin Kellyman, que se liberta. 
        Filme a filme a saga desenvolve-se e cresce em todas as direcções por forma que a torna uma referência do cinema americano contemporâneo. Não ofende e está bem feito, com fotografia de Bradford Young, música de John Powell e montagem de Pietro Scalia. Depois de três filmes baseados em Dan Brown, Ron Howard confirma aqui estar no topo da sua carreira de realizador.
        Com mais de 40 anos de existência, com filmes previstos e outros à margem da saga, "Star Wars" apresenta-se como um fenómeno de qualidade e popularidade, a merecer estudos analíticos desenvolvidos tanto da sua narrativa como da sua estética e também do seu acolhimento (ver "Lateral", de 30 de Julho de 2017, e "A festa do cinema", de 28 de Janeiro de 2018).    

quinta-feira, 7 de junho de 2018

O clube dos mortos

     Albano Martins (1930-2018) foi um destacado poeta e tradutor português, com uma obra vasta e muito importante. Pouco falado na comunicação, teve um trabalho precioso sobre a palavra poética e o seu tempo. Professor Universitário, foi fundador da Árvore e colaborou na Nova Renascença e na Colóquio-Letras. Tem a sua poesia publicada pelas Edições Afrontamento, nomeadamente "As Escarpas do Dia (Poesia 1950-2010)" e as suas traduções de poesia grega e latina antigas, europeia e latino-americana do século XX. 
                                           
   Exemplo raro de descomprometimento com cenáculos e círculos literários ou  outros, foi um dos grandes poetas contemporâneos portugueses. o que aqui devo assinalar na hora da sua partida, que lamento.
   Com qualidades equiparáveis na prosa, Maria Judite de Carvalho (1921-1998) foi um dos maiores nomes da literatura portuguesa, que os mais novos, passados 20 anos sobre a sua morte, talvez não conheçam.
                               Seta Despedida
    Especialista no conto e na crónica, ela foi um expoente da literatura portuguesa do século XX. Agora muito oportunamente recuperada na publicação da sua obra completa pela Minotauro, num primeiro volume com "Tanta Gente, Mariana" e "As Palavras Poupadas", as suas duas primeiras obras. Uma iniciativa que aqui me cumpre saudar sobre uma escritora anteriormente publicada pela Arcádia, as Publicações Europa-América e a Caminho. 
    Tanto a ele como a ela foram atribuídos os mais prestigiados prémios literários portugueses.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

A ver sem falta

   James Nachtwey é um grande fotógrafo americano que nas últimas décadas tem feito reportagens fotográficas sobre populações vítimas dos grandes conflitos, das guerra e das grandes privações do nosso tempo.
    Com um instinto visual humano e artístico apurado pelo trabalho, ele tem-nos dado fotografias que testemunham de um tempo sem piedade, de ódios e crimes hediondos praticados por acção ou omissão sobre populações em massa em todo o mundo. Identificando-as, ele fotografa os corpos e os rostos de vítimas de situações terríveis do nosso mundo no nosso tempo, representantes cada uma delas de populações inteiras, dos Balcãs ao Rwanda, São Salvador, territórios palestinianos, Somália, Sudão, Afeganistão, Iraque, Estados Unidos e muito mais.
                     
     A sua primeira grande exposição retrospectiva, Memoria, está patente na Maison Européene de la Photographie, em Paris, até 29 de Julho, e para ela chamo aqui a vossa muito especial atenção. Dividida em 17 secções reúne perto de 200 fotografias. Para percebermos o que fazem as guerras, o preço que implicam em termos humanos a pobreza, a doença e a fome. 
      Ver aqui
https://www.mep-fr.org/
      Estas coisas sabem-se pelo Arte. Evidentemente.