quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Além dos limites

    "Relatos Selvagens"/"Les nouveaux sauvages"/"Relatos selvajes", terceira longa-metragem do argentino Damián Szifrón (2014) - que tem trabalhado sobretudo para a televisão - com argumento dele e Germán Servídio e produção de Agustìn e Pedro Almodóvar, é um filme em episódios, os dois primeiros breves, os outros quatro um pouco mais longos.
    Trata-se de situações bizarras em que as personagens se excedem em agressividade ou em desalento, como vítimas ou/e como como culpadas: no primeiro episódio, "Pasternak", os passageiros de um avião; no segundo, "Las ratas", um cliente de restaurante e as duas empregadas; no terceiro, "El más fuerte", dois condutores na estrada; no quarto, "Bombita", um homem que arrumou mal o carro; no quinto, "La propuesta", um atropelamento mortal com fuga; e no último, "Hasta que la muerte nos separe", uma festa de casamento. 
                       
   Com brio e inteligência, o realizador trata cada episódio de maneira cerrada, de modo a que o tom de comédia surja, esparso, com o excesso. Por vezes raiando o absurdo, cada uma das situações é exarcerbada e levada para além dos limites do suportável - e então o episódio acaba, numa colagem sobre a malha da sociedade moderna vista clinicamente ao microscópio.
   Estes serão os "novos selvagens" do nosso tempo e, de facto, o filme passa-se na Argentina como se poderia passar em qualquer outro país, subdesenvolvido ou dito desenvolvido..Os dois primeiros episódios são mais sumários, short stories macabras, o  último é muito bom mas os melhores são "El más fuerte", "Bombita" e "La propuesta", os que envolvem carros.
   Conta com excelentes actores e tem fotografia de Javier Julia, música de Gustavo Santaolalla e montagem de Pablo Barbieri e do realizador. Passou ontem à noite no Arte - sobre cinema argentino ver "Um cheiro de morte", de 7 de Maio de 2018.

domingo, 26 de agosto de 2018

Discreto e influente

   Natural de Aljustrel, Luís Amaro (1923-2018) distinguiu-se-se como editor de José Régio, Adolfo Casais Monteiro, Mário Beirão e Manuel Teixeira-Gomes, entre outros, na Potugália Editora, como poeta de inspiração lírica e intimista e como crítico literário.
   Com António Luís Mota, António Ramos Rosa, José Terra e Raul de Carvalho fundou e dirigiu os cadernos Árvore - folhas de poesia entre 1951 e 1953. Participou noutras publicações como a Seara Nova e a Távola Redonda e foi director-adjunto e consultor editorial da Colóquio-Letras, da Fundação Calouste Gulbenkian. 
                                                          
    Pelos seus 90 anos a Biblioteca Nacional dedicou-lhe merecida e importante exposição, numa altura em que a sua influência se tinha alargado já a poetas mais recentes.
    Defensor da poesia e dos poetas, de que foi um grande e atento conhecedor, também bibliófifo, autor de uma obra poética breve mas muito boa influenciada pelo neo-romantismo e pelo segundo modernismo, deixou uma marca profunda na poesia, na literatura e na cultura portuguesas, de que foi personalidade de relevo e testemunha privilegiada até aos nossos dias.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Desencontros

    "Reviver o Passado em Montauk"/"Return to Montauk", de Volker Schlöndorff (2017), é o mais recente filme deste cineasta central do cinema novo alemão dos anos 60/70 a estrear em Portugal. Aparentemente modesto como filme, tem a ambição da sua temática não aparente mas notória e notável.
    Max Zom/Stellan Skarsgärd é um conhecido escritor alemão. Depois da abertura em grande-plano dele a falar para a câmara, em digressão pelos Estados Unidos, leia-se New York, na companhia de Clara/Susanne Wolff, procura e reencontra Rebecca/Nina Hoss, mais nova do que ele, agora advogada, que conheceu de perto anos antes durante uma outra viagem à América.                     
    Por entre apresentações públicas do seu livro, ele consegue, graças a Walter/Niels Arestrup, rico marchand de arte, reencontrar-se com ela, que depois de alguma hesitação, o convida para um fim-de-semana em Montauk, onde eles se tinham conhecido. Aí, depois de uma noite juntos fazem confidências um ao outro.
                      return to montauk
   O que me interessa neste filme, que tem argumento de Colin Tóbin e do realizador, é o lado de fantasma do passado que Rebecca reveste para Max, muito bem sintetizado no diálogo final entre ele e Clara, e também o fantasma dela do seu namorado que morreu jovem, enquanto ele tem uma filha já com 16 anos. 
   De realização simples salvo o ancilar grande-plano inicial e com interpretações justas, sem recusar o imediato aponta para o lado escondido dos protagonistas, ancorado no passado numa teia de relações muito bem concebida, e tem muitas referências filosóficas e literárias - o trabalho da escrita, o que fica inacabado na vida, etc. - que lhe conferem densidade e a que há que estar atento. 
    E no final Max não pega na valiosa oferta de Walter. Conta com fotografia de Jerôme Alméras, música de Michael Bartlett, Caoimhim O'Raghallaigh e Max Richter e montagem de Hervé Schneid.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Um homem de paz

   Conhecido como distinto Secretário-Geral da Nações Unidas entre 1997 e 2006, Kofi Annan (1938-2018)) desempenhou o cargo de forma excepcional, deixando nessas funções um paradigma difícil de igualar.  
    Começou como responsável do orçamento da Organização Mundial de Saúde e depois Director do Turismo no Gana, onde nasceu. Graduado em Gestão pelo MIT em 1972, trabalhou em seguida nas agências especializadas das Nações Unidas nos principais e mais difíceis cargos dedicados à paz, à saúde e ao bem estar daquela organização internacional, do Ruanda à ex-Jugoslávia, entre 1987 e 1996 como Secretário-Geral Adjunto.
                       Former United Nations Secretary General Kofi Annan has died.
      Numa época especialmente difícil, que incluiu a independência há muito ansiada de Timor-Lesta, a sua actividade como Secretário-Geral da ONU, centrada na paz, foi de tal modo importante que lhe valeu o Prímio Nobel da Paz pela criação do Fundo Global de Luta contra a Sida, a Tuberculose e a Malária em 2006.
     Terminadas as suas funções como Secretário-Geral da ONU, em que tinha cumprido um segundo mandato, criou a Fundação Kofi Annan, com sede da Suíça. Figura distinta e simpática, a sua memória deve ser um incentivo para todos, em especial nas Nações Unidas, na luta por um mundo mais pacífico e acolhedor, de que o espectro da guerra seja afastado..

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Espirituais negros

    Era assim que se chamava ao que cantava Aretha Franklin (1942-2018) quando a comecei a ouvir na minha juventude, quando começaram a surpreender-me e impressionar-me a sua voz e as suas canções. Desse modo me tornei familiar da música soul, que arrastava consigo as suas origens entre os escravos negros americanos de séculos passados.
    Havia um segredo na sua voz e na sua presença física que nos resistia para além do mais acessível, a um ponto que nenhum outro cantor americano que tenha conhecido atingiu. Nelas se pressentia o Além mas também a incompreensão, a persistência do seu mistério. 
                       Aretha Franklin
      Filha de um pastor baptista, começou a cantar muito cedo. Inteligente, viva e interveniente politicamente no seu país, depois de uma carreira brilhante de compositora e cantora partiu numa altura em que todos a recordam ainda no seu melhor, na sua grandeza, sem ter conhecido verdadeiramente a decadência. 
      Partilho aqui a dor dos meus leitores americanos e de todos os seus admiradores. Que o mistério da vida e da morte permaneça na sua voz e na sua memória.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Reencontro

    O americano Paul Schrader é mais conhecido por ter sido o argumentista de "Taxi Driver"(1975) e de "A Última Tentação de Cristo"/"The Last Temptation of Christ" (1988) e co-argumentista de "O Touro Enraivecido"/"Raging Bull" (1980), todos de Martin Scorsese, embora no início tenha realizado também bons filmes, como "A Rapariga da Zona Quente"/"Hardcore" (1979), "American Gigolo" (1980), "A Felina"/"Cat People" (1982), remake de Jacques Tourneur, e "Mishima"/"Mishima: A Life in Four Chapters" (1985).
   Depois de filmes irregulares, parcialmente falhados ou apenas parcialmente conseguidos, o cineasta, também argumentista, reencontra-se no regresso ao seu melhor com "No Coração da Escuridão"/"First Reformed" (2017), um filme marcado pelo seu livro "Transcendental Style in Film: Ozu, Bresson, Dreyer" (1972, reeditado com nova introdução em 2018) e sobretudo por "Diário de um Pároco de Aldeia"/"Journal d'un curé de campagne", de Robert Bresson, datado de 1950.
    De facto, como aí o filme acompanha a escrita do diário (para um ano) do protagonista, o Rev. Ernst Toller/Ethan Hawk, confrontado primeiro com o marido de Mary/Amanda Seyfried, MichaelPhilip Ettinger, militante ambientalista que quer que ela não tenha o filho de que está grávida, o que o faz recordar o seu próprio filho morto na guerra "imoral" do Iraque. A partir daqui e do suicídio de Michael a ideia de morte atravessa todo o filme, atingindo o próprio Tollen.        
                       Ethan Hawke and Amanda Seyfried sitting on a couch talking.
     Em contrapartida, ele rejeita o amor de Esther/Victoria Hill e acaba por ter uma experiência de levitação com Mary enquanto, doente, se prepara para enfrentar o seu superior Rev. Joel Jefferson/Cedric the Entertainer e o poderoso industrial Edward Balq/Michael Gaston, que o patrocina e despreza o que a ciência diz dos efeitos ambientais da sua actividade.
    Por intervenção de Mary, Toller abandona primeiro o atentado suicida que preparava com o material recolhido para o efeito por Michael, depois o suicídio, o que confere um final feliz a um filme que levanta a questão do aborto e também os problemas ambientais do planeta em termos de escolha entre a vida e a morte. De modo que esta, a escolha, é o verdadeiro tema do filme.
    Com uma realização que aponta para os precedentes acima referidos, nomeadamente com câmara fixa, espaços vazios e fora de campo, "No Coração da Escuridão" tem fotografia de Alexander Dynan, música de Brian Williams e montagem de Benjamin Rodriguez Jr. Aqui Paul Schrader recupera o prestígio e a qualidade iniciais, de que andou afastado a maior parte do tempo, num filme que ecoa claramente o seminal "Taxi Driver". E Ethan Hawk tem mais uma excelente interpretação.
     Deixo a nota final de que Thomas Merton (1915-1968), que Ernst Toller lê, foi um monge trapista americano e escritor, que escreveu sobre espiritualidade, ecumenismo, pacifismo e justiça social, cujos livros, muito influentes, foram à época traduzidos para português.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Um Verão

   Com argumento de Sean Baker e Chris Bergoch, "The Florida Project", de Sean Baker (2017), é a primeira longa-metragem deste cineasta desde "Tangerine" (2015) - que, como o anterior "Starlet" (2012), tinha os mesmos argumentistas - e foi um dos filmes americanos mais elogiados do ano. 
  Centrado num bloco habitacional tipo motel, acompanha crianças pequenas, em especial Moonee/Brooklynn Prince, Scotty/Christopher Rivera, Dicky/Aiden Malik e Jancey/Valeria Cotto que, entregues a si mesmas durante o dia, enquanto os pais estão ocupados, vivem felizes com os seus jogos e tropelias. É Verão e estamos próximos da Disneylândia.    
                     Filme The Florida Project
   Progressivamente o filme vai identificando melhor cada uma das crianças e a respectiva família, em especial Moonee e a sua mãe Halley/Bria Vinaite, Scotty e a sua mãe Amber/Patti Wiley, mas também o gerente local, Bobby/Willem Dafoe, que tem um papel central. Os conflitos estalam em especial devido a Halley, e o que parecia ser uma comédia transforma-se num drama pungente.
   Tem alusão aos perigos a que as crianças estão sujeitas, boa elipse da súbita riqueza de Halley, bom tratamento do espaço nomeadamente no final e bom aproveitamento da proximidade do espaço mítico da Disneylândia. E sobretudo um tom justo entre ligeireza infantil e realismo.
  Muito bem localizadas espacial e temporalmente, grandes questões sobre a América contemporânea passam por este filme agreste e impiedoso, questões que até não são um exclusivo local mas universais. Os problemas, familiares e de vizinhança, são identificados com precisão e tratados sem paliativos à distância justa.
  Com interpretações seguras e uma boa realização, tem os dois argumentistas como co-produtores, fotografia de Alexis Zabe, música de Lorne Balbe e montagem de Sean Baker. Este é de facto um filme muito bom que nos afasta do cinema-espectáculo comum rumo a algo mais rude e interessante.

sábado, 11 de agosto de 2018

Horrífico

   "O Legado de Saw"/"Jigsaw", dos irmãos Spierig (2017), é a recuperação de um franchise criado por James Wan e Leigh Whannell que deu no cinema sete filmes entre 2004 e 2010, mas também jogos de vídeo, banda desenhada e outros produtos de entretenimento. Produto típico da série B, enche o peito de pretensão e aí falha, como foi assinalado oportunamente pela crítica.
  Com duas séries de crimes com o mesmo perpetrador, aparentemente impossível pois John Kramer/Tobin Bell morreu há dez anos, acaba por se resumir a cenas de terror macabro e horripilante, com tortura, em que a "escolha" aleatória deixada às vítimas (como num jogo, justamente) é um logro, e ao enigma, no final resolvido, de quem é o criminoso. 
                                  
   Entre os suspeitos destacam-se Logan Helion/Matt Passmore e o detective Helloran/Callum Keith Rennie, num filme em que a ideia de vingança se confunde com a de "justiça" pelas próprias mãos, embora reveladora de desconfiança nas instituições uma das mais nocivas do cinema americano. Por seu lado, a referência à internet negra é pertinente.
  Tem argumento de Josh Stolberg e Peter Goldfinger e não adianta nada à série de horrores a que o filme de terror contemporâneo se tem reconduzido: excesso de imaginação para um terror arrepiante. Haverá quem goste mas não é o meu caso. E se traduz ia violência da sociedade americana também a fomenta, o que não deve ser ignorado nem minimizado.
  Neste modelo de serial killer, "Seven - 7 Pecados Mortais"/"Seven", de David Fincher (1995) permanece inultrapassável.  Fiquei, no entanto, a conhecer estes novos cineastas americanos, os irmãos Michael e Peter Spierig, que vou agora acompanhar com prudência.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

A febre dos bolbos

   "A Febre das Tuipas"/"Tulip Fever", de Justin Chadwick (2017), chamou a minha atenção por envolver um pintor nos Países Baixos no século XVII. A partir daqui era de esperar que tivesse alusões à pintura holandesa da época, o que de facto acontece na excelente fotografia de Eigil Bryld.
     Muito bem realizado e com excelentes cenários, interiores e exteriores, da Amsterdão da época, o filme narra a história de Sophia Sandvoort/Alicia Vikander e do seu marido mais velho que ela, Cornelis Sandvoort/Christoph Waltz, da serva dela, Maria/Holliday Granger, que é a narradora, do namorado desta, Willm Brok/Jack O'Connell e do pintor Jan van Loos/Dane DeHann, convidado a fazer o retrato pintado dos senhores e que se torna amante da senhora.
   Com um número de peripécias talvez excessivo, tem o seu centro narrativo no comércio e na especulação de bolbos de tulipa, a grande riqueza local na época, o tempo do nascimento do capitalismo. Tanto Willm como Jan se envolvem nos respectivos leilões, embora a grande jogadora seja uma certa Abadessa/Judi Dench.                                               
                      a febre das tulipas
    Com muito bons actores, cenários e figurinos, a montagem de Ricky Russell permite ao cineasta adoptar as melhores soluções de realização, surpreendentes e apropriadas, que contribuem para a ligeireza do filme.
    Irónico, este conclui-se com o refazer do casal dos servos e o duplo desfazer do casamento e da relação da senhora, que se vai juntar ao convento. Tudo leve e ligeiro mesmo nos equívocos, enganos e falsas identificações.
    Tem argumento de Deborah Moggach e Tom Stoppard baseado em novela da primeira e a música de Danny Elfman contribui para o sucesso do filme, o melhor de Justin Chadwick, que já nos dera "Duas Irmãs, Um Rei"/"The Other Boleyn Girl" (2008), até agora. Mesmo que venha a ser o flop do ano, como antevê o New York Post, não deixa de ser um belo filme, simples, directo e muito bem feito.

domingo, 5 de agosto de 2018

A carta dos mortos

     "A Paixão de Van Gogh"/"Loving Vincent", de Dorota Kobiela e Hugh Welchman (2017), é um filme raro de uma beleza rara que só agora vi e aqui vos aconselho.
    Alternando o presente a cores, em que o filho de um carteiro tenta entregar uma carta de Vincent, já morto, destinada ao seu irmão Theo, também já morto, com o passado a preto e branco, especialmente dedicado aos últimos tempos de vida do pintor, dá além disso conta de uma nova linha de investigação sobre as circunstâncias da morte deste, baseada num relatório médico alternativo dela.
     Com as imagens pintadas ao estilo de Van Gogh e fidelidade ao meio e às pessoas com quem ele passou os seus últimos tempos em Auvers, "A  Paixão de Van Gogh" é mais um excelente filme dedicado a este génio precursor da pintura moderna como personalidade fascinante e contraditória que mesmo assim produziu uma obra admirável e revolucionária do cânone estabelecido no seu tempo.
                     
   O seu mérito maior é, porém, a sua originalidade visual, em que 120 artistas pintaram à mão 65.000 fotogramas emulando o próprio pintor, a sua maneira e a sua técnica, num filme com actores no passado a preto e branco e recurso a tecnologia digital. 
   Tem argumento dos realizadores e Jacek Dehnel, fotografia de Tristan Oliver e Lukasz Zal, música de Clint Mansell e montagem da realizadora e Justyna Wierszynska. Robert Golaceyk interpreta Vincent e e Douglas Booth faz Armand Roulin, o portador da "carta dos mortos".       
   Verdadeira obra de arte cinematográfica em animação do melhor efeito e do maior interesse. Na sua originalidade, no seu interesse histórico, na sua excelente qualidade técnica, na sua dinâmica visual e na sua novidade narrativa, este "A Paixão de Van Gogh" é um filme apaixonante e excepcional que merece a melhor atenção de todos nós.

sábado, 4 de agosto de 2018

Memória no dia mais quente

   Ao ritmo a que estas coisas nos vão chegando, nem sempre noticiadas como deviam em caso de estrangeiros, devo assinalar aqui mais duas mortes recentes que são baixas de vulto sentidas por todos no cinema. 
                      Taxidrivers_L'albero degli zoccoli_Ermanno Olmi_Stasera in tv
   Em primeiro lugar Ermanno Olmi (1931-2018), figura maior do cinema novo italiano dos anos 60, com filmes do maior relevo como "O Emprego"/"Il posto" (1961), "Os Noivos"/"I fidanzatti" (1963), "E venne un uomo" (1965), sobre o Papa João XXIII, e "A Árvore dos Tamancos"/"L'albero degli zoccoli" (1978), Palma de Ouro em Cannes. Cineasta moderno influenciado pelo neo-realismo em especial no início, foi uma referência do cinema do seu tempo com filmes marcadamente pessoais e originais. cuja morte, ocorrida em Maio, aqui tardiamente assinalo e lamento.
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   A actriz portuguesa Laura Soveral (1933-2018) tornou-se uma actriz maior pelo seu trabalho em "Uma Abelha na Chuva", de Fernando Lopes (1972), filme central do cinema novo português dos anos 60 e 70 baseado em romance de Carlos de Oliveira. Com outras grandes interpretações para cinema, nomeadamente em filmes de Manoel de Oliveira, António Pedro Vasconcelos, João Botelho, José Fonseca e Costa, José Álvaro Morais e Miguel Gomes, trabalhou muito também para a televisão pelo que era uma figura familiar aos espectadores portugueses, que a admiravam e respeitavam e cujo pesar partilho neste momento.