sexta-feira, 7 de julho de 2017

Enquanto os comboios passam

    Baseado no best-seller de Paula Hawkins, "A Rapariga no Comboio"/"The Girl on the Train" de Tate Taylor (2016) é um filme muito elaborado narrativa e cinematograficamente. O que se justifica e está parcialmente conseguido.
    As sucessivas mulheres de Tom/Justin Theroux, Rachel/Emily Blunt, Anna/Rebecca Ferguson e Megan/Haley Bennett, têm que, cada uma de seu modo, lidar com a memória e o presente dele, o que é feito a partir da primeira que viaja diariamente de comboio até New York fazendo sempre o mesmo percurso. A questão levanta-se a partir do que ela vê da janela do comboio e depois vai tentar averiguar.
   Se este facto traz à memória "Janela Indiscreta"/"Rear Window" de Alfred Hitchcock (1954) funciona apenas como ponto de partida e as semelhanças ficam-se por aí. A construção retrospectiva embora confunda um tanto justifica-se e está bem feita, salvo na materialização do que corresponde a mera imaginação da protagonista, que é discutível.
                                   A Rapariga no Comboio Poster
   O alcoolismo de Rachel está bem explicado e bem defendido como elemento narrativamente relevante na construção de uma personagem complexa e esquiva por Emily Blunt e a sua relação com o que a rodeia e com o passado é afectada pertinentemente por esse facto. A falta de lisura de Tom no seu comportamento com as mulheres, também bem defendida por Justin Theroux, é, por sua vez, bem contrastada com o comportamento das outras personagens masculinas.
   "A Raparida no Comboio" é um filme que prende a atenção do espectador, dividida entre uma morena e duas loiras, enquanto as personagens masculinas estão bem concebidas e interpretadas. Do lado feminino destacam-se a composição de Emily Blunt e algumas secundárias. É um filme que evidencia as relações que pretende estabelecer na história do cinema, demasiado simplificador e moralista mas que vai na direcção destes tempos.
    É hoje em dia comum os best-sellers literários chamarem a atenção do cinema, o que aqui volta a acontecer com bons resultados. Depois de "As Serviçais"/"The Help" (2011) e "Get on Up" (2014), Tate Taylor faz um bom trabalho de realização a trabalhar sobre argumento de Erin Cressida Wilson, enquanto a parte técnica está bem entregue e bem resolvida, com direcção de fotografia de Charlotte Bruus Christensen, música de Danny Elfman, montagem de Andrew Buckland e Michael McCusker e cenários de Kevin Thompson. 
   Agora leiam o livro de Paula Hawkins, que tem atrás de si uma grande tradição de autoras de policiais, editado em Portugal pela Topseller, e comparem. Estas adaptações cinematográficas por vezes redundam em servis leituras literais, que aumentam o sucesso do original sem nada lhe acrescentarem, o que neste caso a meu ver não acontece.

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