sábado, 29 de setembro de 2018

O inexplicável

    Dando continuidade a "O Pequeno Quinquin"/"P'tit Quinquin" (2014), o francês Bruno Dumont dirigiu nova mini-série para televisão, "Coincoin et les z''inhumains" (2018), de novo com argumento seu a partir do mesmo meio e das mesmas personagens, agora mais velhas. Passou nas duas últimas semanas no Arte.     
                      
    As coisas complicam-se porque algumas das personagens duplicam-se como se por clonagem e um misterioso líquido negro cai do céu sobre algumas delas, o que leva a falar de extra-terrestres, primeiro, do apocalipse depois. Coincoin/Alane Delhaye passeia e namora. A polícia investiga.
    Cada um dos quatro episódios representa um crescendo de cómico, de horror e de absurdo, em que os inumanos do título surgem também como refugiados (os outros, diferentes) e como padres pedófilos, inumanos comuns, diferentes dos outros, que não se chegam a ver.
                      Coincoin et les Z'inhumains de Bruno Dumont : 'J'avais envie d'aller plus loin, il fallait pousser le bouchon'
    Tudo parece sob controlo até que é o próprio comandante Von der Weyden/Bernard Prevost a ser clonado, o que vem complicar a vida de Carpentier/Philippe Jone que lhe diz que ele não é ele, verbalizando o que dos outros antes clonados poderia ter sido dito e não fora: aquele duplo já não é quem esteve na sua origem apesar de ser igual a ele. 
   Aumentado o grotesco esta mini-série aumenta o alcance filosófico a que se vem juntar a presença inexplicada de desconhecidos e a antecipação do fim dos tempos perante a enormidade dos acontecimentos. Tudo termina com um desfile felliniano em que entram todos os actores da mini-série. A fotografia é de Guillaume Deffontaines e o elenco já conhecido está muito bom, inexpressivo salvo os dois polícias, sobre-expressivos. A realização de Bruno Dumont é como de costume certa.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Uma vida

      Nome maior das artes plásticas e da arte portuguesa contemporânea, Helena Almeida (1934-2018) reuniu em si qualidades extraordinárias de talento e persistência que fizeram dela uma referência da arte europeia.  
                    
      Fez a sua primeira exposição individual em 1967 e a partir daí expôs em todo o país, toda a Europa e todo o mundo enquanto desenvolvia uma obra da maior importância centrada no seu próprio corpo. Mereceu vários prémios importantes ao longo da sua vida. Tornada figura pública, tornou-se conhecida e respeitada.
      Cumpre-me assinalar aqui a sua morte e lamentá-la. Embora ela fosse daqueles artistas que "se vão da lei da morte libertando" e permaneça como fonte de inspiração e como exemplo, como figura central e carismática da arte contemporânea.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

O centro do mundo

    "Uma Casa Junto ao Mar"/"La villa" é o mais recente filme do cineasta francês Robert Guédiguian, um filme sobre o passado e o presente com doentes, vivos e mortos que traça um panorama familiar completo e comovente.
    Os três irmãos, Angèle/Ariane Ascaride, Joseph/Jean-Pierre Darroussin e Armand/Gérard Meylan reúnem-se à cabeceira do pai, Maurice/Fred Ulysse, que teve um colapso, na casa em que cresceram no sul de França, perto de Marselha. Para receberem a herança paterna em vida dele, que sem consciência nem fala pode viver ainda mais uns anos. Joseph leva consigo a namorada, muito mais nova que ele, Bérangère/Anaïs Demoustier.   
      Aí encontram Yvan/Yann Trégouët e os pais deste Martin/Jacques Boudet e Suzanne/Geneviève Mnich, bem como Benjamin/Robinson Stévenin (filho de Jean-François Stévenin), apaixonado de teatro e de Angèle, que é actriz. As relações entre eles cruzam-se em surdina, elipticamente, com sobriedade e elegância.
                     
    Com serenidade e emoção, os três irmãos recordam o passado comum e Angèle em especial a filha morta afogada acidentalmente. Mas no presente, depois de duas mortes chegam no final três crianças refugiadas, três irmãos que os replicam, que se vão integrar harmoniosamente na família e na narrativa. 
   Também a realização do cineasta marselhês é serena, como se para captar os segredos mais íntimos de cada personagem num filme bergmaniano em que o particular se articula muito bem com o universal, para que remete e que repercute.
    Numa obra já muito apreciável cujos dois filmes anteriores, "Au fil d'Ariane" (2014) e "Une histoire de fou" (2015), não nos chegaram, este filme sem música tem argumento de Serge Valletti e Robert Guédiguian, fotografia de Pierre Milon e montagem de Bernard Sasia, com produção do próprio realizador e de Marc Borduras. E os actores principais são os habituais dos filmes deste destacado cineasta. Disto eu gosto.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Um homem da imagem

   Director de fotografia de José Fonseca e Costa em "Os Demónios de Alcácer Quibir" (1977) e "Kilas o Mau da Fita" (1980), de Artur Semedo em "O Rei das Berlengas" e de José Álvaro Morais em "Ma Femme Chamada Bicho" (1978), de Paulo Rocha em "A Ilha de Moraes" (1984) e de Fernando Lopes em "Matar Saudades" (1988), António Escudeiro (1933-2018) foi um muito qualificado homem da imagem no cinema português.  
                                           Photo of António Escudeiro
   Também realizador, participou no filme colectivo "As Armas e o Povo" (1975) e fez entre outros "Eu Vi a Luz em um País Perdido" (1993) para a televisão e documentários como "Adeus até Amanhã" (2007). Em tudo o que fez no campo da imagem deixou a sua marca pessoal. Aqui o recordo com saudade na hora da sua partida.

domingo, 23 de setembro de 2018

A guerra é a guerra

    "A Grande Decisão"/"Darkest Hour", de Joe Wright (2017), realizador que já tinha feito "Expiação"/"Atonement" (2007) e "Anna Karenina" (2012) entre outros, é um filme sombrio sobre tempos muito difíceis e decisisivos para o Reino Unido no início da II Guerra Mundial.
     No meio de acerba luta política, Winstom Churcill/Gary Oldman torna-se a escolha inevitável para primeiro-ministro depois da demissão do anterior, Neville Chamberlain/Ronald Pickuo, e perante a recusa do candidato óbvio, o Visconde Halifax/Stephen Dilane, de lhe suceder.
    Contando apenas com o apoio de Clemmie/Kristin Scott Thomas, da secretária Elizabeth Layton/Lily James (uma relação muito curiosa) e mais tarde do próprio rei Jorge VI/Ben Mendelsohn, o novo primeiro-ministro, corre o mês de Março de 1940, tem de lidar com a invasão da Alemanha nazi da Noruega, Países-Baixos, Bélgica e França, onde se encontra estacionado um grande número de tropas inglesas.
                     .On Surviving Your Darkest Hour image
     Numa situação que conduziu imediatamente a Dunquerque, ele tem, de acordo com a sua própria convicção, de afastar as ardilosas propostas de Halifax de negociação com Hitler mediada por Mussollini, avançar com o esforço de guerra contra todos os riscos, nomeadamente o de invasão do solo britânico, e fazer evacuar os seus homens de França. Uma viagem de metro em Londres mostra-lhe o apoio que tem e o que deve fazer.
     Com argumento de Anthony McCarten, o filme tem uma realização certa, sóbria e segura, que deixa os actores darem o seu melhor num clima de emoção crescente perante as sucessivas escolhas difíceis de Churchill, um primeiro-ministro hábil e resoluto, à altura do seu tempo.
     Tem fotografia de Bruno Delbonnel, música de de Dario Marienelli e montagem de Valerio Bonelli e é um filme estimulante, muito oportuno e bem feito para o tempo presente. Sem garantia de todos os pormenores pessoais, confia-se na investigação prévia para o argumento e em todo o caso a mancha histórica é verídica, o  que confere a este "A Hora Mais Negra" uma ainda maior importância.
     O Óscar do melhor actor para Gary Oldman é inteiramente merecido naquele que foi um dos melhores filmes do ano.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Simples e rigoroso

     "Milla" (2017) é a segunda longa-metragem da fotógrafa francesa de origem arménia Valérie Massadian, depois de "Nana" (2011). De uma grande simplicidade narrativa tem uma construção formal muito boa.
     Em planos longos, em geral estáticos, um par de adolescentes apaixonados, Milla/Severine Jonckeere e Leo/Luc Chasel, dois não-profissionais, conversa, vagueia, diverte-se, festeja. E aqui avulta um plano longo dele que fala directamente para a câmara dirigindo-se a ela fora de campo.
                                             Milla     
     Passados uns 40 minutos do filme Milla surge visivelmente grávida e, depois de uma sequência de Leo na pesca, o filme passa a acompanhá-la a ela, que faz trabalhos de limpeza. Até ao nascimento e os primeiros anos do filho, Ethan Jonckeere, muito despachado, a quem ela diz que "o pai está no céu" embora ele ainda apareça uma vez.
    O argumento é da própria cineasta e a fotografia de Robin Fiesson e Mel Massadian. Sem música a não ser diegética, o filme evita a cena do casal primordial e da família triangular dos primeiros filmes de Philippe Garrel para se aproximar dos primeiros filmes de Agnès Varda.
     Com uma excelente composição visual que torna as personagens mais verdadeiras e a narrativa minimal mais pregnante, este é um filme muito bom em que a forma conduz, até no outro plano com as vozes dos protagonistas fora de campo, que faz uma panorâmica da direita para a esquerda sobre o mar. Abre fecha a negro.

sábado, 15 de setembro de 2018

Lições de história

    A série televisiva "1918-1939: Les rêves brisés de l'entre-deux-guerres" (2018), que o canal cultural franco-alemão Arte transmitiu esta semana, constitui um excelente trabalho para televisão de carácter histórico, muito recomendável
                              1918-1939 : les rêves brisés de l'entre-deux-guerres
      Composta a partir de relatos biográficos, de diários íntimos e de correspondência privada, em oito episódios alterna imagens documentais de época, a preto e branco, com reconstituição actual a cores num trabalho de montagem notável em termos técnicos e em termos fílmicos.
     Exemplar do ponto de vista histórico, mostra o emergir de nacionalismos e de ideias de supremacia racial e como os seus defensores se apoderaram do poder, enquanto acompanha também a evolução da revolução soviética e a evolução política noutros países. Sem falhas, desde o final da I Guerra Mundial, com o Armistício e o Tratado de Versailles, seguido da deriva dos vencidos nos anos 20, até ao rebentar da II Guerra Mundial no final dos anos 30, décadas cujos episódios políticos mais marcantes acompanha detidamente.       
                        « 1918-1939 : les rêves brisés de l’entre-deux-guerres » : les utopies fracassées
    Correspondendo ao conceito de documentário de reconstituição, esta série absolutamente modelar e indispensável tem realização de Jan Peter e Frédéric Goupil. Pela sua natureza pessoal, a parte reconstituída envolve a subjectividade da experiência de viver naqueles tempos conturbados, enriquecendo esta série
     Seria importante que circulasse por todo o mundo em tempos de novo perigosos para prevenir a tentação da repetição, que se verifica na actualidade com o aparecimento de populismos, nacionalismos, racismo e xenofobia em diversos pontos do globo.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Uma exposição preciosa

    Termina no próximo domingo, 16 de Setembro, já em prolongamento a exposição "Escher" que está desde Novembro de 2017 no Museu de Arte Popular, em Lisboa. Trata-se de uma exposição muito importante embora não muito extensa, que nos permite tomar contacto com a obra deste grande artista gráfico do século XX.
    De origem holandesa, Maurits Cornelis Escher (1898-1972) desenvolveu uma obra fundamental em especial em litografia e xilogravura, mal conhecida na sua parte anterior às "composições paradoxais" que o tornaram famoso e que aqui se encontra também representada.
                    
   Antecipando intuitivamente conhecimentos matemáticos que posteriormente o vieram confirmar, nos seus paradoxos perceptuais e lógicos extremamente desafiadores ele criou obras fundamentais nas artes do seu tempo, muito influentes e que hoje mais do que nunca merecem ser bem conhecidas. 
   O espaço do Museu de Arte Popular não é grande, pelo que não dá para mais, mas felicito os seus responsáveis por esta iniciativa sem precedentes entre nós, uma exposição com atracções especiais para os mais novos e que tem sido um sucesso. É comissariada por Mark Veldhuysen e Federico Giudiceandrea e o catálogo "M, C, Escher: A Arte do Puzzle e O Puzzle da Arte", de Piergiorgio Odifreddi, inclui também obras ausentes da exposição e fornece uma introdução capaz ao artista e à sua obra. 
   Perante esta grande oportunidade só posso recomendar a todos que a visitem ainda. Para maiores desenvolvimentos, cf. em português "Gödel, Escher, Bach - Laços Eternos", de Douglas R. Hofstadter"´(Lisboa, Gradiva, 2000, 2013 para a segunda edição). Só agora falo disto porque só nos últimos dias consegui ver esta exposição.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

América a preto e branco

     Depois de "Rodney King" (2017) e "Pass Over" (2018), que não nos chegaram, Spike Lee realizou também este ano "BlacKKKlansman: O Infiltrado"/"BlacKkKlansman", um filme baseado em factos reais com argumento de Charlie Wachtel, David Rabinowitz, Kevin Wellmott e do cineasta, também produtor, a partir do livro de  Ron Stallworth.
      Começando com imagens de filmes de Hollywood contra os negros e com um discurso racista interpretado por Alec Baldwin, o filme acompanha um jovem negro, Ron Stallworth/John David Washington (filho de Denzel Washington), que nos anos 60 consegue ser admitido na polícia onde se oferece para trabalhar como infiltrado.
     Numa primeira missão conhece Patricia Dumas/Laura Harrier durante um comício do black power, mas depois oferece-se para infiltrar o KKK. Como ele é negro tem de arranjar quem o represente fisicamente junto da Organização, o que vai ser feito pelo seu colega branco Flip Zimmermann/Adam Driver.          
                                       
        Não vou contar o filme. Direi antes que a relação entre os dois, estabelecida com micro e audio, tem momentos divertidos e que se o lado dos negros está naturalmente bem representado mesmo quanddo entre brancos, o grande trunfo do filme é a certeira representação da sinistra organização racista, dirigida por David Duke/Topher Grace. E aí de forma muito pertinente o filme liga o passado e o presente até ao recurso ao tristemente célebre slogan "America first".
       Spike Lee não é, nunca foi um cineasta banal, antes se conta os melhores realizadores americanos contemporâneos, o que aqui se confirma com o recurso a figuras de estilo que já utilizou em filmes anteriores, como planos longos e isolar personagens do cenário incrustando-as no plano, e com o muito apropriado paralelo entre as actividades do KKK e a história antiga que conta Jerome Turner//Harry Belafonte, que demonstram que ele está em grande forma.
        O filme termina com imagens documentais fortes do presente e uma homenagem. Dizer que se trata de um filme político limita-se a constatar uma evidência num cineasta cujos filmes sempre tiveram esse cunho, embora de facto este o seja especialmente e sobre o presente. Tem excelentes actores, fotografia de Chayse Irvin, música de Terence Blanchard e montagem de Barry Alexander Brown.
      "BlacKkKlansmaan: O Infiltrado" é um grande filme que aqui aconselho e todos devem ver. Porque é um filme sobre estes tempos difíceis que se vivem na América e no mundo. Um tempo perigoso com novos e sinistros protagonistas, que alastra e precisa de ser dominado.

sábado, 8 de setembro de 2018

Superação

     "Missão: Impossível - Fallout"/"Mission: Impossible - Fallout", de Christopher McQuarrie (2018), é o sexto desta popular série de filmes de origem na série televisiva criada por Bruce Geller. Tem produção de J. J. Abrams, Tom Cruise e do realizador, também argumentista, como já acontecera no filme anterior, "Missão Impossível: Nação Secreta"/"Mission: Impossible - Rogue Nation" (2015).
     Um primeiro ponto é ser um filme de acção, um segundo ponto ser um filme com Tom Cruise e o terceiro ponto é ser feito em estilo de série B, o que lhe dá um cariz artificial, impreciso próprio, visível na encenação televisiva para o prisioneiro e em cenas rodadas em Paris.     
                        mission impossible fallout box office records
    Decorrendo fundamentalmente no eixo Paris-Londres, volta a reunir Ethan Hunt/Tom Cruise, Luther Stickwell/Ving Rhames, Benji Dunn/Simon Pegg e Ilsa Faust/Rebecca Ferguson desta feita contra John Lark e os Apóstolos, formados após a derrota do Sindicato no filme anterior, com um Secretário/Alec Baldwin e Erika Sloane/Angela Basset no comando das operações relativas a um terrorista que tem em seu poder três ogivas atómicas que há que trocar e apreender em Paris e Londres, Soloman Lane/Sean Harris, com a Black Widow/Vanessa Kirby como intermediária.                       
     Os grandes momentos de acção são a perseguição a Ethan que foge de moto da polícia em Paris e o final que, nas montanhas da fronteira da China com o Paquistão, com o lugar-comum de uma ONG, o opõe a August Walker/Henry Cavill, o homem que trabalha com eles mas a mando de Erika, com perseguição espectacular de helicóptero, contagem decrescente, precipício montanhoso e tudo. 
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    Com descontração, explicações verbais sumárias e sem ligar nenhuma à verosimilhança, como é de uso nos filmes de espiongem salvo quando baseados em John le Carré, faz bom uso dos locais mais conhecidos de Paris e Londres como cenário e cumpre o programa da série, sublimando-a e superando-a porque Ethan Hunt é tomado como agente duplo, trabalhando também para o inimigo e porque, depois de quase descarrilar em Londres com a morte do Secretário, reengrena e caminha imparável para o seu final, em que surge também Julia/Michelle Monaghan, a ex-mulher de Ethan.
    O tom irrisório, de série B, aumenta o interesse potencial do filme, em que avulta ainda a luta de Benji com aquele que personalizara para efeito da troca em Paris. E naquele grupo de elite, que já não confia em ninguém, tudo se passa com familaridade e de acordo com as regras do bom companheirismo entre profissionais, com o esperado e costumado final feliz - Ethan Hunt retira o detonador com os dentes e segue-se o epílogo.
    Tem fotografia de Rob Hardy, música de Lorne Balfe e montagem de Eddie Hamilton. Igual a si mesmo como figura icónica do cinema, Tom Cruise está um pouco melhor que o costume num elenco desenvolto e já conhecido na sua parte principal.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Indignidade

    "O Número"/"Remember", de Atom Egoyan (2015), com argumento de Benjamin August, é um filme sem grande brio mas com fibra e alguma chama, que remete para a memória de Auschwitz.
   Zev Guttman/Christopher Plummer, viúvo e a sofrer de demência, recebe de Max Rosenbaum/Martin Landau o encargo de matar um misterioso nazi que esteve em Auschwitz e sai do hospital em que estava para o procurar, enquanto o seu filho Charles/Henry Cremy tenta localizá-lo.
                      
     Depois de encontrar três indivíduos com o mesmo nome entre os Estados Unidos e o Canadá nenhum dos quais é o que procura, no fim de um longo percurso com alguns percalços sabe que o quarto será o propriamente dito - e não vos conto mais.
     Sem dever nada de especial ao estilo do cineasta de origem arménia, o filme resolve-se entre números com uma pirueta inesperada, em que reside o especial motivo de interesse que apresenta - afinal, num tempo de memórias pouco claras de Zev, o significado do número gravado no braço era outro.
    Tem bons actores, fotografia de Paul Sarossy, música de Mychael Danna e montagem de Christopher Donaldson. Vê-se sem enfado embora nada de especial acrescente à obra de Atom Egoyan salvo do lado do duplo e da morte.

sábado, 1 de setembro de 2018

O homem certo

     O novo director do Arquivo Secreto e da Biblioteca do Vaticano, José Tolentino de Mendonça, é "o homem certo no lugar certo". Intelectual prestigiado, teólogo e académico, vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, é também escritor e poeta reconhecido, a qualidade em que melhor o conheço.  
                     
      Figura conhecida devido à sua intervenção pública e à sua qualidade de colunista do Expresso, é um homem de cultura de alto gabarito, especialista em livros como criação e como memória nesta época em que muitos os querem relegar para segundo plano, como algo do passado. Um católico que, sem beliscar em nada a sua fé, não esconde o seu respeito por ateus.
     Felicito o Papa Francisco pela sua escolha e o agora Arcebispo José Tolentino de Mendonça pelo seu novo cargo em que, estou certo, terá um desempenho da maior qualidade - e a Biblioteca do Vaticano é talvez a maior e mais importante do mundo.