Foi um
cineasta fundamental do cinema moderno, que com outros como Roberto Rossellini,
Michelangelo Antonioni, Robert Bresson e Jacques Tati inaugurou. Autor de uma
obra cinematográfica diversificada mas muito coerente, fundamental, e que
também encenou para o teatro, em que começou antes do cinema, e fez filmes para
a televisão.
Educado num
meio luterano, o que muito o marcou, e influenciado pela filosofia de Sören
Kierkegaard, estreou-se no cinema em 1946 com
"Crise"/"Kris" mas foi a partir de "Um Verão de
Amor"/"Sommarlek" (1951) e de "Mónica e o
Desejo"/"Sommaren med Monika" (1953) que começou a ser conhecido
e reconhecido internacionalmente. Numa primeira parte a sua obra é influenciada
pelo "realismo poético" de Marcel Carné e vai até "Noite de
Circo"/"Gycklarnas afton" (1953). Mas desde 1944 trabalhou
também como argumentista em filmes de Alf Sjöberg e Gustaf Molander.
A seguir iniciou
uma nova fase que vai de filmes sobre o amor a filmes de inspiração metafísica
(o silêncio de Deus), de filmes sobre mulheres a filmes voltados para o
passado, do drama à comédia. Avultam nos anos 50 "O Sétimo
Selo"/"Det sjunde inseglet" (1957) e "Morangos Silvestres"/"Smultronstället"
(1957), depois "A Fonte da Virgem"/"Jungfrukällan" (1960)
antes da trilogia "Em Busca da Verdade"/"Säsom i en spegel"
(1961), "Luz de Inverno"/"Nattvardsgästerna" e "O
Silêncio"/"Tystnaden" (1963), seguida de "A
Máscara"/Persona" (1966).
A este
segue-se uma série de grandes filmes de que destaco "Lágrimas e
Suspiros"/"Viskningar och rop" e "Cenas da Vida
Conjugal"/"Scener ur ett Äktenskap" (1973) e "Sonata de
Outono"/"H]ostsonaten" (1978) numa fase mais contemporânea sobre
a solidão humana, a relação entre os sexos, a família, o amor e a morte, que
vai culminar em "A Flauta Mágica"/"Trollflöjten" (1975) e
"Fanny e Alexandre"/"Fanny och Alexander" (1983), de
carácter auto-biográfico, e em "Depois do Ensaio"/"Efter repetitionen
(1984). Anunciou então que se retirava do cinema, o que, porque pouco comum foi
inesperado. Continuou a fazer teatro e filmes para a televisão e regressou
ainda com "Saraband" (2003).
Descrito muito sumariamente um percurso variado
e muito importante sempre ao mais alto nível, há que dizer que se Ingmar
Bergman teve várias temáticas recorrentes, entre as quais o conflito de
gerações, o conflito entre os sexos e o conflito da vida com a morte, todos
eles conflitos centrais que envolvem instintos primordiais, trabalhou e
elaborou um estilo pessoal em que sobressaíam o grande-plano, o tratamento do
espaço, o trabalho dos actores e os diálogos, primeiro a preto e branco, a
partir de 1969, com "A Paixão"/"En Passion" a cores. Fez filmes
falados em inglês, "O Amante"/"Beröringen"/"The
Lover" (1971) e um filme sobre a guerra, "O Ovo da
Serpente"/"Das schlangenre"/"The Serpent's Egg", e
sobretudo cada um dos seus filmes, sempre com argumento seu, foi objecto de uma
realização depurada e contou sempre com grandes actores.
Para ser
ainda mais completo, fez também dois documentários, "Färo-Dokument
1969" e "Farö-Dokument 1979", sobre a ilha em que viveu,
enquanto no teatro encenou ao longo da sua vida Shakespeare, Moliére, Goethe,
Büchner, Chekhov, Ibsen, Stindberg, Pirandello, Anouilh, Bertolt Brecht, Eugene
O’Neill, TennesseWilliams, Albee, Gombrowicz e Botho Strauss entre outros e
também peças da sua autoria.
Destacaram-se
ao longo da suaa obra grandes actrizes (Harriet Andersson, Bibi Andersson, Eva
Dahlbeck, Ulla Jacobson, Ingrid Thulin, Liv Ullmann, Ingrid Bergman) e actores
(Victor Sjöström, ele próprio cineasta do mudo, Max Von Sydow, Gunnar
Björnstand, Erland Josephson) e certos colaboradores dos seus filmes como os
directores de fotografia Gunnar Fischer e Sven Nykvist. Mas também a música foi
importante nos seus filmes, com preferência por Johann Sebastian Bach.
Pela sua visão sobre o ser humano e as relações entre os humanos foi um cineasta original, audacioso, próximo do existencialismo e em especial de Albert Camus, extremamente importante e influente, que deixou um rasto decisivo na história do cinema e continuadores como, entre outros, Woody Allen. Argumentos seus foram ainda levados ao cinema por Bille August, Daniel Bergman e Liv Ullmann.
A importância da obra de Ingmar Bergman não se deve apenas ao mito que o rodeou depois de ter anunciado a sua retirada precoce mas ao extraordinário valor humano, dramático e estético de cada um dos seus filmes, que se revêem hoje com a mesma novidade e a mesma frescura que tiveram quando foram estreados, alguns deles obras-primas absolutas do cinema.
Na passagem do centenário do seu nascimento aqui o recordo e homenageio como cineasta sem medos ou receios, corajoso e desinibido que mostrou até onde o cinema podia chegar até na sua relação com o pensamento, o que explorou largamente com suprema autoridade e grande mestria. Sobre o cineasta cf. em português "A Maldade no Cinema de Ingmar Bergman, de António Júlio Rebelo (Lisboa: Edições Colibri, 2015).
Pela sua visão sobre o ser humano e as relações entre os humanos foi um cineasta original, audacioso, próximo do existencialismo e em especial de Albert Camus, extremamente importante e influente, que deixou um rasto decisivo na história do cinema e continuadores como, entre outros, Woody Allen. Argumentos seus foram ainda levados ao cinema por Bille August, Daniel Bergman e Liv Ullmann.
A importância da obra de Ingmar Bergman não se deve apenas ao mito que o rodeou depois de ter anunciado a sua retirada precoce mas ao extraordinário valor humano, dramático e estético de cada um dos seus filmes, que se revêem hoje com a mesma novidade e a mesma frescura que tiveram quando foram estreados, alguns deles obras-primas absolutas do cinema.
Na passagem do centenário do seu nascimento aqui o recordo e homenageio como cineasta sem medos ou receios, corajoso e desinibido que mostrou até onde o cinema podia chegar até na sua relação com o pensamento, o que explorou largamente com suprema autoridade e grande mestria. Sobre o cineasta cf. em português "A Maldade no Cinema de Ingmar Bergman, de António Júlio Rebelo (Lisboa: Edições Colibri, 2015).
(Escrito para o 10º aniversário de Cinema 7ª Arte, aqui
https://www.cinema7arte.com/
com os meus parabéns)
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