O mais recente filme de Teresa Villaverde, "Colo" (2017), ddepois de ter estado no Festival de Berlim estreou finalmente em Portugal, confirmando-a como um dos mais importantes cineastas portugueses da sua geração, ao lado de Pedro Costa como desde o início de ambos tenho dito.
Depois da aparente auto-complacência feminina de "Cisne" (2011), a sua anterior longa-metragem, a cineasta, argumentista, produtora e realizadora, escolhe uma família, o casal interpretado por João Pedro Vaz e Beatriz Batarda, e a filha, Marta/Alice Albergaria Borges. Privilegiando o ponto de vista desta, com a qual o filme arranca e termina, dá conta do estilhaçamento de uma famíla num tempo nem de guerra nem de escassez como a filha grita à mãe.
Marta tem uma amiga, Júlia/Clara Jost, que está grávida e quer continuar a gravidez, e que ela acolhe em sua casa depois de o pai, desempregado, ter tido o seu despertar na banheira, como Brigitte Bardot com Michel Piccoli em "O Desprezo"/"Le mépris" (1963), sob o signo do vermelho da toalha e do azul do balde, as cores de "Pedro, o Louco"/"Pierrot le fou" (1965) ambos de Jean Luc Godard. Com a mãe desinteressada e incapaz de pagar a conta da electricidade, ela vagueia e aproxima-se da avó depois de o pai, sempre sob o signo das mesmas cores e com regresso recorrente ao terraço, declarar querer assumir a paternidade do filho de Júlia.
Com um compreensível salto geracional e com o corte da electricidade muito bem aproveitado pela excelente fotografia de Acácio de Almeida, "Colo" alonga-se nas suas inevitabilidades, como o namorado de Marta e os episódios paternos, quando o apoio mútuo requerido na família, o colo, cai e ela se estilhaça, o que é simbolizada pela morte do pássaro doméstico.
Algures entre Ingmar Bergman e Andrei Tarkovski, Teresa Villaverde cria mais um filme muito bom e irrepreensível, com um tratamento espacial perfeito - as divisões do plano, a profundidade de campo, a diagonal - e uma decantação temporal muito bem trabalhada - os planos longos do pai, nomeadamente no terraço. A raridade da música, que sobe no final, deixa tudo mais preciso e sem salvação, enquanto o travelling sobre a casa fechada do fim é muito bom
O aparecimento de Simone de Oliveira como a avó e de Rita Blanco como Sílvia no final está muito bem visto, num filme de grande seriedade e grande rigor, ao que a cineasta nos habituou já ao longo de uma obra do maior relevo em que tem aperfeiçoado um estilo próprio, uma obra que "Colo" acrescenta de forma significativa.
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