terça-feira, 6 de março de 2018

Toda a dor do mundo

       Conhece-se o incremento recente do filme documental sobre arte e artistas, praticado entre nós com especial cuidado e sucesso por Jorge Silva Melo.
       "Beuys", de Andres Veiel (2017) é um documentário de longa-metragem sobre o célebre artista alemão, pintor, artista gráfico, escultor, teórico, professor e performer, que marcou decisivamente a segunda metade do século XX.
      Ao recordar a vida dele com apoio em imagens suas e das suas criações, em declarações suas e em depoimentos de outros, constrói com rigor um puzzle biográfico e artístico pleno de contrastes e de humor, muito elucidativo e interessante.          
                      
       Joseph Beuys ultrapassou a fama de Andy Warhol e de Robert Rauschenberg quando, na década de 70, passou de uma tempestade a um furacão de criatividade, contra as regras estabelecidas da arte e do seu establishment. Mas o seu pensamento "orgánico" sobre a arte tinha também uma dimensão política, que ele não se dispensou de levar à prática a partir da ideia, nunca satisfeita, de democracia directa por referendo.
       Reconhecido dos dois lados do Atlântico e no Japão, teve uma vida atribulada, com a sua vocação artística contrariada pelos pais e a participação na II Guerra Mundial até à queda do avião em que seguia na Crimeia. Apesar disso e com isso atrás de si, afirmou-se e singrou na cena artística internacional.
       Este documentário muito bem documentado e muito bem feito faz-lhe justiça e constitui-se, assim, em verdadeiro manifesto pela arte num seu conceito expandido, que ele muito bem soube defender e encarnar.

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