"15:17 Destino Paris"/"The 15:17 to Paris", de Clint Eastwood (2018), rima na obra do grande clássico americano vivo com "Sniper Americano"/"American Sniper" (2014), em que, além do heroísmo, ele mostrava o pessimismo americano sobre a guerra no Iraque. Aqui ele escolhe um episódio muito recente que envolve três americanos na neutralização de um terrorista no comboio Amsterdão-Paris, em 2015.
Partindo da opção feliz de mostrar a vida dos três protagonistas desde a infância, Spencer/William Jennings, Alek/Bryce Gheisar e Anthony/Paul-Mikél Williams, durante a qual eles foram colegas numa escola católica, só na sua segunda parte o filme se centra na viagem deles pela Europa a partir de Roma para, depois de Veneza e Berlim, se encontrarem todos em Amsterdão, onde apanham o comboio que vai definir o seu destino.
Como "Milagre no Rio Hudson"/"Sully" (2016) baseado em factos reais, este é um filme menos espectacular e por isso mesmo mais notável, em que se nota a marca, a assinatura do cineasta, de quem justamente Godard dizia que se reconhece um plano seu pela posição da câmara - e, acrescento eu, por algo mais do que isso: uma mise en scène, uma concepção do espaço, uma secura narrativa eliptíca, embora aqui acomodadas.
Com argumento de Dorothy Blyskal, baseado no livro dos protagonistas, Anthony Sadler, Alek Skarlatos e Spencer Stone com Jeffrey E. Stern, "15:17 Destino Paris" devolve-nos uma América confiante em si própria, nos seus princípios e na sua iniciativa, na sua decisão e na sua coraagem, sem que o cineasta se veja forçado a um golpe de rins para o fazer. A escolha do filme foi dele e a opção de mostrar os próprios protagonistas a interpretarem-se a si próprios resulta muito bem.
Contando com fotografia do habitual Tom Stern, música de Christian Jacob, o mesmo de "Milagre no Rio Hudson", e montagem de Blu Murray, assistente em "Sniper Americano", este um filme que nos devolve o melhor do cinema americano e da América sem forçar os traços, a partir dos factos reais. Muito recomendável para todos, mesmo para americanos distraídos com a revolução digital e o espectáculo do 3D.
Mas não deixarei de dizer que Clint Eastwood, realizador e produtor deste filme, aqui como nos dois anteriores mostra "heróis americanos" indiscutíveis, ele melhor do que ninguém saberá porquê, o que confere a esses filmes um certo tom de propaganda. Gostaria de o ver regressar a seguir ao seu espírito agudamente crítico sobre a América contemporânea e os americanos de hoje, que celebrizou mesmo quando foi menos consensual.
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