terça-feira, 18 de dezembro de 2018

O jogo e a regra

    O mais recente filme do mexicano Alfonso Cuarón, "Roma" (2018), Leão de Ouro do Festival de Veneza deste ano, é um filme bem  feito, simpático e bem intencionado, com todos os lugares-comuns do tempo e do local passado em 1970 no México.
    À semelhança de "Shoplifters - Uma família de pequenos ladrões"/"Manbiki kazoku", de Hirokazu Koreeda (ver "Pequenos ladrões", de 30 de Novembro de 2018), tem o interesse de ter o cineasta como realizador, co-produtor, argumentista, director de fotografia e co-responsável da montagem, o que faz dele mais um "filme de autor".
   Simplesmente a história da família rica em crise e da pobre empregada, ainda para mais indígena, encarregada de tratar das crianças, Cleo/Yalitza Aparicio, é uma rotina do melodrama no cinema, com referência explícita a "A Regra do Jogo"/"La règle du jeu", de Jean Renoir (1939) de que, para não enganar ninguém, além da grande mnsão replica uma cena, a da caça. E já não é nada mau...
                      
      De resto a empregada, que é boa rapariga, engravida de um namorado praticante de artes marciais e que se revela algo mais que isso, enquanto a patroa, Srª. Sofia/Marina de Tavira, é deixada pelo marido, com outra em Acapulco ou noutro lugar qualquer. E também por aí passa o carácter político do filme, não apenas centrado no confronto entre os senhores e os servos, os de cima e os de baixo. (E lembro que o lugar-comum pode ser um terreno de eleição para o "cinema político".)
      Destaco a cena do parto do nado-morto que Cleo não queria trazer ao mundo, filmado num plano único, que é replicada pelo salvamento final por ela dos filhos da patroa. Depois é a ascensão da serva pelas escadas acima. 
       No plano formal são de assinalar as panorâmicas e os travellings laterais, entre outras marcas de autor, tal como a atenção aos aviões que passam no céu ao fundo de alguns planos, mesmo sobre o genérico de fim..
      Tem boas interpretações, o que é comum, boa fotografia a preto e branco e piscadelas de olho para o ecrã de cinema e para a televisão. Feito para a Netflix, passou no circuito comercial por causa das regras dos Oscars, que espero lhe façam justiça e bom proveito. E acrescenta uma obra em que se contam nomeadamente "E a Tua Mãe Também"/"Y tu mamá también" (2001) e "Gravidade"/"Gravity" (2013).
      Noto que "Roma" é considerado por muitos o melhor filme do ano, o que nem sequer discuto... 

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