sábado, 8 de abril de 2017

Sem rugas

    O mais recente filme do italiano Marco Bellochio, "Sonhos Cor-de-Rosa"/"Fai bei sogni" (2016), é uma decepção relativa da parte de um cineasta que se iniciou nos anos 60 do século XX no quadro do cinema novo italiano e que temos na conta de um dos melhores do seu país, o que "Bom Dia, Noite"/"Buongiorno, notte" (2003) e "Vencer"/"Vincere" (2009), os seus últimos filmes estreados em Portugal, confirmavam.
    A pretexto de se basear em factos reais, com argumento de Valia Santella, Edoardo Albinati e do próprio cineasta a partir de novela de Massimo Gramellini o filme dedica-se a uma vida sem grandes problemas de um homem sossegado, Massimo/Valerio Mastandrea, salvo o trauma de infância da morte da sua mãe, a que ele regressa recorrentemente. 
                     Sonhos Cor-de-Rosa
     Partindo dos anos 60 com recurso a imagens televisivas da época e com alusões à história do cinema, no que reside o seu maior interesse, "Sonhos Cor-de-Rosa" não se aproxima nem se afasta do protagonista com as suas memórias, sem elas um homem comum e desinteressante. O recurso ao Belfagor infantil é insuficientemente aproveitado e sobretudo a presença da máscara, uma boa indicação, é tão episódica que mal se dá por ela.
     Duvido de que a descoberta final do mistério que envolvera a morte da mãe seja suficiente para aguentar e mesmo justificar este filme que quando muito descreve bem as referências e o espírito de uma época e de uma geração em Itália.
     Sentimental e meloso - quando o seu assunto exigiria um outro tratamento, menos linear - o que, apesar da tradição do melodrama no cinema italiano, sem prejuízo boa construção cinematográfica e da mestria da realização, mesmo com uma candura desarmante a seu favor está longe de satisfazer as expectativas que os filmes de Marco Bellochio sempre criam e que são superiores a um simples bom filme bem feito.

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