sexta-feira, 6 de outubro de 2017

O terceiro homem

   Quando se fala no cinema novo português dos anos 60 do século XX costumam referir-se Fernando Lopes e Paulo Rocha, até Manoel de Oliveira, e esquece-se o António de Macedo (1931-2017), então o terceiro grande realizador das Produções Cunha Telles. Autor de "Domingo à Tarde", baseado em Fernando Namora (1965), "Nojo aos Cães" (1970) e "A Promessa", baseado em Bernardo Santareno (1972), ele foi, contudo, um nome central dessa geração decisiva na transformação do cinema português, caído no esquecimento e já este século recuperado com toda a justiça.
    Menos comprometido com uma linha estética definida, culto e erudito praticou um cinema mais eclético que incluía a experimentação. Igualmente envolvido politicamente, ele foi então um cineasta original e importante, que contudo mudou de rumo depois do 25 de Abril. Desde contam-se na sua obra "O Rico, o Camelo e o Reino ou O Princípio da Sabedoria" (1975), "As Horas de Maria" (1976), "O Príncipe com Orelhas de Burro", baseado em José Régio (1979), "Os Abismos da Meia-Noite" (1983), "Os Emissários de Khalôm" (1988), "A Maldição de Marialva", baseado em João Palma-Ferreira (1989) - pelos quatro últimos foi associado ao cinema fantástico - e "Chá Forte com Limão" (1993), bons filmes mas sem o fulgor e o impacto dos iniciais.
                      http://www.cinemateca.pt/getattachment/799ca52e-338f-40ea-bb87-2e05cd5fe92a/O-Cinema-de-Antonio-de-Macedo-em-projecao.aspx?maxsidesize=650
    Arquitecto, foi um cineasta polémico, esteve na fundação do Centro Português de Cinema, fez também curtas-metragens e documetários e trabalhou para a televisão. Professor e escritor, com livros dedicados ao esoterismo, foi um exemplo de verticalidade e da tentativa de conciliação de um cinema de autor com um cinema comercial, o que o levou ao fracasso de "Sete Balas Para Selma" (1967), a sua segunda longa-metragem. 
   Terá deixado inédito "O Segredo das Pedras Vivas" (2016), feito depois de um interregno 20 anos.. Recordo neste momento a tarde em que, no Cinema Condes, em Lisboa, descobri "A Promessa" como um filme português novo e diferente. Expresso o meu  sentido pesar aos seus filhos, Susana e António Sousa Dias.

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