"Loveless"/"Nelyubov", o mais recente filme do russo Andreï Zviaguintsev (2017), é um filme duro sobre um casal em ruptura violenta, Zhenia/Marianna Spivak e Boris/Alexei Rozine, que tem um filho de 12 anos, Aliocha/Matveï Novikov que, farto da casa paterna em desmantelamento ou por outro motivo, desaparece ao fim de 50 minutos.
O cineasta disse que não quis dar explicações sobre os motivos e o desenlace do filme, o que se percebe e resulta bem. Com argumento de Oleg Neguine - que com ele colabora desde "Izgnanie" (2007), inédito entre nós - e seu, o filme gira durante a sua primeira parte em volta do casal em conflito mesmo na presença do filho, cada um deles com uma nova relação já iniciada - como diz Zhenia, ela quer seguir em frente face a Boris cobarde e receoso.
A segunda parte do filme é dedicada à busca infrutífera do miúdo desaparecido, feita por voluntários perante a impotência da polícia. Corre o ano apocalíptico de 2012 e há um conflito bélico em curso com forças ucranianas, percebemos pelos noticiários televisivos. E "Loveless" finda como começou, sobre águas paradas e árvores nuas.
A frieza quase clínica da realização tira o melhor proveito da fotografia de Mikhail Kritchman, usa parcimoniosamente a música de Evgueni Golperini e a montagem de Anna Mass é precisa. O mais são as interpretações sempre justas num quadro sempre rigorosamente definido, que para o final num quarto usa muito bem um espelho.
Depois de "O Regresso/Yozvrashchenie" (2003), "Elena" (2011) e "Leviatã"/"Leviafan" (2014), este é mais um filme muito bom de Andreï Zviaguintsev que, como os anteriores, explora as fissuras da nova Rússia, pós-comunista, sem princípios, sem escrúpulos e sem amor apesar do voluntariado mas também porque ele é preciso, fechada no seu autismo democrático, autocrático e hierarquizado, em que a geração anterior apenas o seu ressentimento e a sua suspeita tem a transmitir aos mais novos - a mãe de Zhenia.
Mas também aí que cada um retire as suas próprias ilações, pois hoje em dia esses são problemas comuns nas sociedades ditas modernas e não é por acaso que "Loveless" muito pertinentemente fecha em ambiguidade e sobre o vazio.
Mas também aí que cada um retire as suas próprias ilações, pois hoje em dia esses são problemas comuns nas sociedades ditas modernas e não é por acaso que "Loveless" muito pertinentemente fecha em ambiguidade e sobre o vazio.
Sem comentários:
Enviar um comentário