sábado, 12 de janeiro de 2019

A casa dos mortos

   Assombardo pela morte, "The House That Jack Built - A Casa de Jack", o mais recente filme do dinamarquês Lars von Trier (2018) descreve, sobre argumento seu a partir de ideia de Jenle Hallund, episódios da vida de Jack/Matt Dillon contada em cinco incidentes por ele próprio ao diabo que lhe calhou, Verge, interpretado fatalmente por Bruno Ganz, que foi anjo para Wim Wenders em "As Asas do Desejo"/"Der Himmel über Berlin" (1987).
  A conversa decorre em off, enquanto nas imagens vemos Jack, um psicopata obsessivo compulsivo, lidar em circunstâncias diferentes com as suas sucessivas vítimas, na maioria femininas, com a maior frieza. A primeira vítima do serial killer é interpretada por Uma Thurman.
   De uma violência brutal, "A Casa de Jack" remete para a mesma patologia em dirigentes políticos e noutros intervenientes bélicos ao longo da história do século XX por forma a prevenir-nos dos horrores que se podem estar a aproximar de novo, que estarão mesmo a desabrochar agora entre nós.        
                     
   Cada assassinato é apresentado como um acto separado, com as suas motivações gratuitas (o que significa sem motivos que não os fantasiados pelo serial killer) e o seu tratamento próprio, de modo a fazer ressaltar em episódios descontínuos o caso clínico grave de Jack, que surge também em breves mas repetidas imagens desfolhando folhas com palavras escritas em tamanho que as torna legíveis.
   Abundantes, as referências à arte não disfarçam, antes integram o tom da diiscussão entre o ódio do protagonista e o amor que, paradoxalmente, lhe contrapoe Verge. A casa que Jack quis construir em diversas ocasiões e deitou sempre abaixo acaba por ser, justificadamente, a casa dos que matou.
   O epílogo, já com os dois interlocutores presentes e retomando o diálogo inicial, fala de uma catábase sem anábase, como é próprio desde a Antiguidade. 
  Num filme moderno Lars von Trier usa sempre muito bem o fora de campo e a música. Recomendo-vos este filme muito bom, que tem fotografia de Manuel Alberto Claro e montagem de Jacob Secher Schulsinger e Molly Malene Stensgaard, para que se perceba com o que se lida na ocorrência desta psico-patologia grave em qualquer pessoa. E tenham o cuidado de remover as ameaças de hoje.

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