O documentário "Vida Activa: O Espírito de Hannah Arendt"/"Vita Activa: The Spirit of Hannah Arendt", de Ada Ushpiz (2015), tem o mérito especial de trazer para a actualidade o pensamento da grande escritora judaica e de contar a sua vida sem fazer o seu panegírico antes expondo-os, pensamento e história, ao debate e à crítica.
O pensamento de Arendt sobre o totalitarismo e sobre o mal mantém neste momento toda a sua força persuasiva, num momento em que ideias de extrema direita abrem de novo caminho um pouco por todo o mundo. Trazer-nos imagens da vida dela, de si própria e dos grandes acontecimentos, das grandes convulsões mundiais de que foi contemporânea e sobre as quais escreveu, a gravação de entrevistas dela, a leitura de excertos da sua correspondência com Martin Heidegger e Karl Jaspers e de livros seus e a discussão actual do seu pensamento é mais do que muito, é muito bom e está muito bem feito em pouco mais de duas horas.
Só com imagens de arquivo, com gravações fílmicas de propaganda sobre o gueto de Varsóvia, com a questão dos conselhos judaicos, imagens da Alemanha e da ascensão do nazismo, depois dos campos de concentração e da libertação, mais tarde do julgamento de Eichman, é todo um programa político e também filosófico que o filme de Ada Ushpiz cumpre, expondo Arendt mas também Heidegger à discussão.
A discussão sobre o grande filósofo de "Ser e Tempo" está bem resolvida com a defesa do carácter politicamente motivado pelo apoio e suporte do nazismo naquilo que ele escreveu. A história da vida de Arendt está bem contada com apoio em documentos, embora muito centrada no julgamento de Eichmann que deu origem aos seus escritos mais polémicos, que ela em entrevista explica, com gravações desse julgamento em Israel mas também dos de Nuremberga.
As noções por ela avançadas e discutidas de vítima e de culpado, as suas propostas alternativas para o comportamento dos alemães durante o nazismo, quando esteve ela própria presa, a sua crítica das ideologias, a necessidade de saber sempre tudo o que acontece à nossa volta, o conceito de "banalidade do mal" no exacto sentido, explicado por ela, em que o utilizou em relação a Eichman - cuidado com os ignorantes e os estúpidos - continuam a interessar-nos.
As noções por ela avançadas e discutidas de vítima e de culpado, as suas propostas alternativas para o comportamento dos alemães durante o nazismo, quando esteve ela própria presa, a sua crítica das ideologias, a necessidade de saber sempre tudo o que acontece à nossa volta, o conceito de "banalidade do mal" no exacto sentido, explicado por ela, em que o utilizou em relação a Eichman - cuidado com os ignorantes e os estúpidos - continuam a interessar-nos.
Eu sei que não vos agradará sair do conforto da vossa vida conformista para verem este filme nem para lerem Arendt, mas mesmo assim aconselho as duas coisas, e que leiam também Heidegger e Jaspers. Aquilo a que assistimos hoje, da crise dos refugiados à ascenção de ideias que, sob outras formas e nomes exalam o cheiro pestilento do passado, repete exactamente o que sucedeu na Europa no imediato pós-Guerra Mundial de 1914-1918.
De facto, o que agora vemos não é só o predomínio de um populismo inócuo, pois historicamente o que começou como tal evoluiu para aquilo que continha já em germe, que envolvia racismo, discriminação por uma raça dita superior de uma nação dita superior, e volta a ser extremamente perigoso e ameaçador. Temos a resposta na história que este filme exemplarmente nos conta ao discutir Hannah Arendt.
Sobre Heidegger aconselho em português "Arte e Técnica em Heidegger", de Irene Borges-Duarte (Lisboa: Documenta, 2014), um trabalho brilhante de uma académica prestigiada. Para seguirem o debate americano vejam aqui
www.nytimes.com/
Talvez que a repetição, a "segunda vez" não seja tão risível como não se têm cansado de nos dizer. Acordem enquanto é tempo para depois não virem dizer que afinal não era aquilo que queriam. Enquanto Jean Gabin continua a suplicar a Michèle Morgan "Embrasse-moi... Embrasse-moi vite vite" no final de "Cais das Brumas"/"Quai des brumes" de Marcel Carné (1938).
Sobre Heidegger aconselho em português "Arte e Técnica em Heidegger", de Irene Borges-Duarte (Lisboa: Documenta, 2014), um trabalho brilhante de uma académica prestigiada. Para seguirem o debate americano vejam aqui
www.nytimes.com/
Talvez que a repetição, a "segunda vez" não seja tão risível como não se têm cansado de nos dizer. Acordem enquanto é tempo para depois não virem dizer que afinal não era aquilo que queriam. Enquanto Jean Gabin continua a suplicar a Michèle Morgan "Embrasse-moi... Embrasse-moi vite vite" no final de "Cais das Brumas"/"Quai des brumes" de Marcel Carné (1938).
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