domingo, 28 de janeiro de 2018

A festa do cinema

     O mais recente filme da saga, "Star Wars: Episódio VIII - Os Últimos Jedi"/"Star Wars: Episode VIII - The Last Jedi", de Rian Johnson (2017), vem desenvolver a narrativa desta space-opera para delícia dos seus muitos seguidores em todo o mundo. O sucesso de box- office foi aquele que se sabe, como filme é fraco, o que não preocupa ninguém.
     Foram oportunamente assinaladas na imprensa portuguesa as incongruências científicas deste filme - por Nuno Crato no Observador de 9 de Janeiro (a força da gravidade, explosões em pleno espaço sideral, etc) -, mas tudo, mesmo a inconsistência, os erros científicos, até com contra-argumentos o espectador é predisposto a aceitar pelos responsáveis da saga, criada em 1977 por George Lucas, que agora incluem a Disney, em benefício da fantasia da ficção-científica no cinema.
     Com um cast de luxo, que inclui Adam Driver, Laura Dern, Benício Del Toro e Carrie Fisher numa das suas últimas aparições no cinema, o filme puxa do lado do prestígio e da popularidade, que não lhe faltam.
     Cada vez mais para os mais novos e os muitos fãs, como filme é fraco, mas face ao grande espectáculo também ninguém se preocupa com isso, repito. Agora morre Luke Skywalker/Mike Hamill, depois de Han Solo/Harrison Ford ter morrido no filme anterior, "Star Wars: O Despertar da Força"/"Star Wars: Episode VII - The Force Awakens", de J. J. Abrams (2015), mas essa é a catarse de um filme em que é o percurso até aí chegar, no duelo final, que mais tempo dura.
                     https://metrouk2.files.wordpress.com/2017/12/star-wars-the-last-jedi.jpg
      Frente aos heróis da Resistência há Snoke/Andy Serkis e o jedi Kilo Ren/Adam Driver, contra os quais se batem Luke e a também jedi Rey/Daisy Miller, enquanto as complicações se multiplicam do seu lado com Finn/John Boyega e Rose Pico/Kelly Marie Fran, Poe Dameron/Oscar Isaac, a vice-almirante Holdo/Laura Dern e a Princesa Leia/Carrie Fisher, nem sempre de acordo sobre o melhor caminho a seguir. Com a Força, subjacente, explicitada em personagens, em actos e em palavras, e o Mal muito claramente identificado por americanos para americanos e para todo o mundo.
     Mas como não reconhecer nas personagens deste filme, com argumento do realizador que já nos tinha dado "Looper - Reflexo Assassino"/"Looper" (2012), os lugares-comuns do filme de acção e de aventuras, da morte do super-vilão ao falso desertor, da fidelidade e do heroísmo de todos à astúcia e habilidade dos heróis jedi, cada um deles com a sua história pessoal, passando pelo cúmplice feito com o inimigo e pelo amor desesperado mas redentor. Justamente como na narrativa popular, nos contos de fantasia. E lá estão o Yoda, C-P30, Chewbacca, R2-D2, BB8 para manter a continuidade da equipa.
      O que se poderia considerar "insuficiências" na fotografia de Steve Yedlin, que deixa por vezes a desejar, na música de John Williams, que com o stereo se torna agressiva, na montagem de Bob Ducsay, sem conseguir imprimir ritmo ao que o não tem, na própria realização, que se limita a juntar as várias partes criadas separadamente, fica a dever-se ao facto de o filme ter sido feito para ter uma versão 3D, a melhor que por isso vos aconselho. O que neste caso, sem constituir ainda a justificação estética do sistema, que dela não precisa pois lhe basta existir e dizer "estou aqui" para se apresentar, justifica muitas coisas.
      Ninguém, contudo, se preocupa com outra coisa que não seja o desenvolvimento da narrativa, com os seus heróis e vilões, as suas peripécias e o seu desenlace. Trata-se, pois, de cinema popular que não é grande coisa como filme, mas é bom ter presente que os filmes populares, para confusão dos historiadores, teóricos e críticos, também fazem o cinema e mesmo a parte mais importante da sua história. Siga a festa, portanto, até ao próximo episódio, mas não se deixem "comer" pela fantasia do "espectáculo do cinema". Quer dizer: entrem na história sem problemas, vejam com atenção, distraiam-se e saiam com precaução (sobre esta saga ver "Lateral", de 30 de Julho de 2017).

Sem comentários:

Enviar um comentário