"Fahrenheit 451", do americano Ramin Bahrani (2018), não é um remake do filme de 1966 de François Truffaut "Grau de Destruição"/"Fahrenheit 451", mas um novo filme baseado na mesma novela de Ray Bradbury.
Alheio ao moralismo beato do então jovem cineasta francês, remete para um futuro dominado pelo Capitão Beatty/Michael Shannon, que obriga os seus servos bombeiros, entre os quais Guy Montag/Michael B. Jordan, Amon Davis em criança, a pegarem fogo a todos os livros existentes. Contra os que pensam de maneira diferente, "enguias", tratados como "terroristas". Na América.
Clarisse/Sofia Boutella, agente dupla, trabalha para o lado dominante como denunciante mas pertence ao grupo daqueles que decoraram livros para os fazerem passar para o futuro. Com ela Guy vai aproximar-se do grupo resistente, uma sociedade secreta com as suas regras, tomar consciência e rebelar-se, até ao fim.
É muito bom que este filme de ficção-científica tenha sido feito este ano por um americano, aliás bem feito embora sem nada de especialmente notável que não seja uma realização escorreita, tipo Série B, e a narrativa, bem esgalhada e com boas interpretações. De facto, é agora que, sob a actual administração, todos os perigos, desta e de outra natureza, pairam sobre a América e sobre o mundo, com réplicas muito perigosas na Europa. Quem faz o que eles fazem também queima livros, já o fez ou vai fazer, sem que isso seja sequer o pior de que são capazes.
Dizem os ingénuos, do Arte e outros, que os anos 30 do século XX na Europa não se repetem mas eles estão a repetir-se sob a designação inócua de "populismos", com apoio crescente das populações insatisfeitas com as hesitações da direita e a tibieza da esquerda tradicionais, que perdem apoio em favor deles como então.
O filme tem argumento de Amir Naderi e adaptação de Ramin Bahrani, fotografia de Kramer Morgenthau e música de Antony Partos e Matteo Zingales. As referências deste filme de Ramin Bahrani aos Estados Unidos da América são expressas e não enganam. Estejam atentos e intervenham, pois, fértil, o ovo da serpente já rebentou e a estirpe é a mesma. É preciso que aqueles que rejeitam estas forças as detenham eficazmente na sua ascensão muito perigosa, as derrotem e façam reverter. Antes que seja tarde, se o não for já - como este filme, com a última esperança nas asas de uma pequena ave, isto tem todo o ar de ir acabar muito mal.
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