segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Alto nível

     Bernardo Bertolucci (1941-2018) iniciou-se no cinema com o cinema novo italiano dos anos 60 - "La commara secca" (1962), "Antes da Revolução"/"Prima  della revoluzione" (1964) e "Partner", sobre o duplo a partir de Dostoievski (1968) - de que foi um dos nomes mais modernos e destacados, com Pier Paolo Pasolini. Marco Bellochio e Carmelo Bene. 
    Numa primeira fase a sua obra desenvolveu-se segundo parâmetros de exigência e grande qualidade, depois daqueles filmes com "O Conformista"/"Il conformista" baseado em em Alberto Moravia e "A Estratégia da Aranha"/"La Strategia del ragno" baseado em Jorge Luis Borges (1970), ambos de marcado cunho político. 
    Após esse início fulgurante, forte e pessoal, que o coloca decididamente do lado do cinema moderno e também do político, com "O Último Tango em Paris"/"Ultimo tango a Parigi" (1972), com Marlon Brando e Maria Schneider, belo filme que banaliza o escândalo parolo que o rodeou, "1900"/"Novecento" (1976), com Robert De Niro, Gérard Depardieu, Dominique Sanda e Alida Valli, grande fresco histórico em que excede o mero modelo viscontiano, "La Luna" com Jill Clayburgh sobre mãe e filho (1979) e "A Tragédia de um Homem Ridículo"/"La tragedia di un uomo ridicolo" com Ugo Tognazzi sobre o sucesso nos negócios (1981) torna-se um realizador internacional de filmes de prestígio e qualidade, que se tornam então indissociáveis do seu nome.. 
                      Bernardo Bertolucci
    Sempre contra o previsível do establishment, na sua obra vão seguir-se o oscarizado "O Último Imperador"/"The Last Emperor" (1987), "Um Chá no Deserto"/"The Sheltering Sky" baseado em Paul Bowles (1990), "O Pequeno Buda"/"Little Buddha" (1993) e "Beleza Roubada"/"Stealing Beauty" (1996), sempre com grandes assuntos, grandes personagens e grandes actores.
   Acaba por regressar a filmes mais pessoais já no século XXI, com "Os Sonhadores"/"The Dreamers" (2003) e "Eu e Tu"/"Io e te" (2012), como se na demanda da inocência perdida e irrecuperável da juventude, em que se situaram talvez os seu filmes mais pessoais e originais
    Guardo dele a memória do ímpeto inspirado dos primeiros filmes e da energia que o levou a erguer monumentos da história do cinema, do inconformismo com que quebrou barreiras e tabus, mesmo de filmar na Grande Muralha da China, em favor de uma beleza não apaziguada que, com o segredo do amor, da vida e da  morte, procurava.
     Figura respeitada e de grande relevo do cinema contemporâneo, soube guardar nos seus filmes um fio de ironia meridional e de contraste que marcava a distância da gravidade dos assuntos que tratava. Um grande senhor do cinema parte agora para desgosto de todos e perda da Sétima Arte.

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