No centenário do final da I Guerra Mundial, o Arte mostrou "La chambre des officiers", de Raymond Dupeyron (2001), um belo filme, inteligente e comovente que não conhecia, com argumento do cineasta a partir de romance de Marc Dugain.
Decorre na sua maior parte numa enfermaria de campanha, a "sala de oficiais " do título, onde se aglomeram oficiais franceses feridos na cara, o mais visível da nossa identidade. Surpreendentemente, numa primeira parte os feridos, deitados, são olhados de cima por médicos e enfermeiras sem que eles próprio sejam mostrados, para depois ser dado o contracampo sobre eles, em seguida surgirem já de pé e como iguais e no final em contra-plongé, que os segue predominantemente mesmo depois do fim da guerra e da saída do hospital daqueles que sobreviveram.
Construído de forma simples mas convincente, "La chambre des officiers" é um filme dramático que conta com grandes actores, muitos deles representando com a cara tapada por causa dos ferimentos na cara - e colocar no mesmo plano Sabine Azéma e André Dussollier, como Raymond Dupeyron faz repetidamente, cita Alain Resnais com quem trabalharam juntos em diversos filmes.
Simétrico, o filme começa com o embarque falhado de um oficial que se encontra com a mulher de outro que embarcou e termina com o regresso dos feridos sobreviventes a casa, onde os aguardam recepções diferentes no final de um percurso que a morte atravessa. Curiosamente, antes disso, quando todas as personagens e todos os olhares passam a equivaler-se surge também uma mulher ferida na cara.
A excelente fotografia, que trabalha cuidadosa e artisticamente o espaço. é de Tetsuo Nagata, a música discreta de Jean-Mochel Bernard e a montagem de Dominique Faysse num filme muito bom que não estreou comercialmente em Portugal.
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