quinta-feira, 9 de maio de 2019

Cumprir as regras

     Forçar a nota narrativamente sem forçar a mão esteticamente é o que faz Gus Van Sant no seu último filme, "O Mar de Árvores"/"The Sea of Trees" (2015), um melodrama forçado e esforçado, muito artificial para pretender ser mais humano.
    Alterna o passado do casal com o presente do marido, Arthur Brennan/Matthew McConaughay que procura o melhor sítio para morrer em Aokigahara, uma densa floresta no Japão na proximidade do Monte Fuji. O japonês que aí encontra, que não sabe o caminho de saída e ele procura salvar, Takumi Nakemura/Ken Watanabe, diz-lhe estar no purgatório e que cada uma das flores que se abrem representa uma alma que chegou ao seu destino. 
                      Matthew McConaughey and Ken Watanabe in The Sea of Trees, Gus Van Sant latest full length feature film.
 
Even the best can sometimes get it wrong.  The Sea of Trees will no doubt be seen as a surprising glitch in Gus Van Sant’s otherwise exquisite contribution to contemporary cinema, like a slightly bland and warped sidestep. In a story about depressed men, Matthew McConaughey and Ken Watanabe, immerged in a forest at the foot of Mount Fuji, talk about their lives in hushed tones, about the regrets and the time gone by too fast, all beneath a constant drone of pompous violins and a sickly syrup that seems to drip over inch of the screen. The film, not particularly touching and never quite as spectral as it would like to be, disappointed both the willingly finicky spectators at the 2015 Cannes Film Festival and his die-hard fans, us included.
 
A few years earlier with Gerry (2002), Gus Van Sant was already filming in his static, dead-end way with people searching for themselves, playing games of hide and seek with death. But that was done with infinitely more grace and risk. At a beachside press conference in Cannes he briefly and placidly noted the difference between the two films, “In The Sea of Trees the heroes are more contemplative than lost. They talk about their life, while in Gerry they disappear completely into the landscape…” The director of Will Hunting, now 63, is no longer of an age where he needs to justify his choices. 
       No passado, a mulher dele, Joan/Naomi Watts, alcoólica, é operada a um tumor na cabeça que se revela benigno... mas morre logo a seguir num acidente de viação, para lhe reaparecer enigmaticamente convocada pela flor amarelo Inverno de que o japonês tinha falado sem ser percebido por Arthur e no lugar onde ele o tinha deixado, debaixo do seu casaco.
      Apesar da ostensiva alusão japonesa, não é Kenji Mizoguchi nem nada que se pareça, concentrando no seu final um simbolismo forçado, "para americano ver" mas que, dada a construção do filme, com boa vontade até funciona. 
       Sem recorrer às figuras de estilo que tornaram o cineasta conhecido desde "Gerry" (2002), tem uma pretensão excessiva e forçada à falta de melhor. Mas mesmo o seu extremar do artifício joga com os lugares-comuns do melodrama nos termos da sua complexidade, o que acaba por o justificar.
     Tem argumento de Chris Sparling, fotografia de Kasper Tuxen, música de Mason Bates e montagem de Pietro Scalia. Correcta, a realização é de Gus Van Sant. E é um filme do realizador de "Elephant" (2003), que nem sequer lhe fica mal e por isso merece ser visto.

Sem comentários:

Enviar um comentário