terça-feira, 28 de maio de 2019

Talvez escrever

   "Em Chamas"/"Burning" do sul coreano Lee Chang-dong (2018), que já nos dera entre outros "Poesia"/"Shi" (2010), é um filme muito bom, bem elaborado narrativamente e bem construído cinematograficamente. Tem argumento de Jungui Oh e do cineasta baseado em conto de Haruki Murakami.
   Com uma encenação em largura e em profundidade, o filme acompanha Lee song-so/Yoo Ah-in que se prende a Shin Hae-mi/Jeon Jong-seo, que conhecera na infância, antes desta viajar para África, para logo a seguir ao regresso a perder em favor de Ben/Steven Yeun. Fazendo que avança sem avançar, andando em círculo, abre a partir do sonho do protagonista, com as chamas que Ben dissera atear a estufas e o subsequente desparecimento de Shin Hae-mi.
                      
    Escritor sem livro que quer seguir William Faulkner, Lee song-so escreve antes do final violento que fora precedido pelo regresso inesperado da sua mãe e pelos objectos de Shin Hae-mi em casa de Ben, incluindo o gato, Bolha, que não era visível em casa dela e ali surge tal como o relógio cor-de-rosa dela.
    Feito de silêncios e elipses, tem uma música não indiferente que, sem cair na sopa audiovisual de hoje, permanentemente comenta, sublinha, contrasta em contraponto e inventa.
    A fotografia é de Hong Kyung-pyo, a música do conhecido Mowg (Lee Sung-hyun) e a montagem de Kim Da-won e Kim Hyun. A realização é sempre serena e segura, centrada no que é importante, mesmo se vazio, sem esquecer o fora de campo.
   Trata-se de mais um filme muito bom, sério, misterioso e profundo, que há que preencher nos seus enigmas e nas suas elipses, de um cineasta que merece a nossa melhor atenção. Prémio da melhor realização do Cinema Asiático 2018.

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