sábado, 11 de maio de 2019

Pensar duro

     O meu Claudio Magris é um grande escritor que, enfrentando os temas mais difíceis no ensaio e na ficção tem desenvolvido uma obra extraordinária. Triestino, ele tem sabido acolher e prolongar Italo Svevo com mestria, conhecimento, escrita elaborada e densa.
    Quando envereda pela ficção vai ao encontro dos lados mais obscuros e violentos da história para os trazer à luz da actualidade, como acontece em "Um outro Mar", "E Então Vai Entender", "Às Cegas" e "Uma causa improcedente", também ensaio histórico.
     No ensaio ele tem publicado livros, como "A História Não Acabou" e "Alfabetos", que reúnem o que escreveu para a imprensa italiana e outros textos de circunstância em que atinge extremos de completude e profundidade em termos sempre muito bem informados. O que desenvolve nos textos mais curtos sobre o quotidiano em "Instantâneos". 
     Por exemplo em "Alfabetos" tem palavras que são plenamente actuais sobre o século XX e o nosso tempo, nomeadamente sobre o "nacionalismo" (págs. 288-295), que se destacam num panorama completo sobre a europa-central e de sudeste, sobre escritores e literaturas como a praguense e a norueguesa em que revela inteiro conhecimento de causa.
                                         Danúbio        
      Grande escritor e grande pensador que é, não se queda pelos lugares-comuns sobre temas e autores mais conhecidos, antes entra onde a vida doeu e dói sem complacência nem compromissos que não sejam consigo próprio e com a verdade. 
     Editado em português pela Quetzal, Claudio Magris é um grande nome da literatura mas também da teoria da literatura e da cultura, hoje em dia indispensável por a partir do passado nos permitir entender de maneira meridianamente clara o presente.
      Por muito que se divague sobre a originalidade do presente, é preciso conhecer a história sem facciosismo, como ela decorreu e os seus acontecimentos mais importantes se enquistaram, enredaram e expandiram de forma ofensiva e desumana. Será insuficiente e errado pensar o presente sem essa informação desenvolvida da história geral e da história da cultura.
                       claudio-magris
     Sem minimizar nada, ele ergue-se a toda a sua dimensão de escritor nas saborosas e judiciosas crónicas improvisadas sobre o presente, o quotidiano actual, e nas obras de ficção em que atinge um fulgor incomparável.
     Mas a sua obra-prima é "Danúbio", o livro que o tornou mais conhecido e é um dos mais importantes do nosso tempo. Por aí em especial passa um saber da escrita e da literatura raro e de grande densidade.
    Agora torna-se necessário entender plenamente a dimensão filosófica e crítica do seu pensamento. Um grande escritor pensa e faz-nos pensar como leitores, por muito duro que  seja o seu pensamento como é o caso de Claudio Magris. O mais é o folclore literário dos best-sellers internacionais, de que ele está completamente afastado e eu também.

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