"O Dia Seguinte"/"Gen-hu", o mais recente filme do sul-coreano Hong Sang-soo ((2017), geralmente considerado como um dos melhores cineastas da actualidade, é mais um excelente filme com argumento e realização sua que o vem confirmar como tal.
Num surpeendente preto e branco, Bongwar/Kwon Hae-kyo, dono de uma editora e casado, despede-se de uma assistente com quem tem um affaire, Changsook Lee/Kim Sae-byeok, e acolhe uma nova assistente, Areum Song/Kim Min-hee. Tudo se passa entre a editora, o restaurante e a rua neste filme rohmeriano.
A grande questão do filme é colocada no primeiro diálogo no restaurante entre a nova assistente e o patrão: ela acredita, ele não, cada um deles com os seus argumentos. Ela chama-lhe cobarde. A remissão para o Ocidente europeu está presente nas imagens na sala da editora, visíveis aqui.
A questão filosófica, a que Gilles Deleuze respondeu em 1985 em "L'image-temps", assume rapidamente contornos práticos: irá a mulher de Bongwar acreditar nas sucessivas explicações dele, uma verdadeira sobre a nova assistente, a outra falsa sobre a antiga? Quando, depois de dispensada em favor de Changsook, Aerum regressa, ele, que começa por não a reconhecer, explica-lhe o que aconteceu até ser levado a viver sozinho com a filha.
Os planos longos dos diálogos com um quadro visual preenchido permitem às personagens explicarem-se detidamente e dão uma ideia precisa do espaço. Na maior simplicidade a maior clareza num assunto recorrente na obra do cineasta: um homem mais velho e mulheres mais novas. De quem é a voz que vem do fora de campo no final, quem entra a seguir com a refeição fica dependente daquilo em que cada espectador quiser acreditar, moral rohmeriana deste filme de elipses justas e surpreendentes.
O que falta à Estação Meteorológica de António Guerreiro no Ipsilon desta semana, O mundo é um filme, que como sempre aconselho, é perceber que há muito o cinema é uma realidade póstuma - e não apenas pelas razões que aduz - que só nestas margens em que se movem Hong Sang-soo e alguns outros subsiste e apresenta ainda interesse. O resto é um negócio que se reconverte e metamorfoseia sob qualquer denominação, imagem proliferante e visível em qualquer lugar para que aponta o "expanded cinema" de Gene Youngblood desde 1970.
O que falta à Estação Meteorológica de António Guerreiro no Ipsilon desta semana, O mundo é um filme, que como sempre aconselho, é perceber que há muito o cinema é uma realidade póstuma - e não apenas pelas razões que aduz - que só nestas margens em que se movem Hong Sang-soo e alguns outros subsiste e apresenta ainda interesse. O resto é um negócio que se reconverte e metamorfoseia sob qualquer denominação, imagem proliferante e visível em qualquer lugar para que aponta o "expanded cinema" de Gene Youngblood desde 1970.
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