sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Leite e mel

    A actriz israelita Natalie Portman realizou em 2015 "Uma História de Amor e Trevas"/"A Tale of Love and Darkness", baseado no romance homónimo do seu compatriota Amos Oz. Tratando-se de um dos melhores livros de um dos melhores escritores da actualidade interessou-me vê-lo.
    Nascido em 1939, o escritor situa o livro autobiográfico na sua infância no pós-guerra em Israel, por altura  do seu reconhecimento internacional como Estado independente. No filme Amos é interpretado por Amir Tessler, a sua mãe, Fania, por Natalie Portman e o seu pai, Arieh, por Glad  Kahana, estando a voz e a figura de Amos velho a cargo de dois actores.
    Tudo decorre na relação do protagonista com os  pais, em especial com a mãe, e com o meio, narrado pelo Amos adulto e filmado do ponto de vista dele quando criança. Ora esta questão do ponto de vista é plenamente respeitada pala realizadora, também argumentista, o que contribui decisivamente para o sucesso do filme.
                                       https://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/thumb/1/12/A_tale-of-love-and-darkness-poster.jpg/220px-A_tale-of-love-and-darkness-poster.jpg
      Mas além do próprio narrador e por sua causa interessa a personagem da mãe dele, com problemas pessoais difíceis que se revelam através das suas histórias de juventude, na Polónia, mas com um grande amor pelo filho, que este lhe retribui - Fania é muito bem interpretada por Natalie Portman, Sem descer a todos os pormenores da narrativa literária, a narrativa fílmica está bem estruturada e bem interpretada numa leitura feliz do original. A questão da preservação da inocência de que a mãe fala ao filho e a conclusão do narrador já adulto de que a realização dos sonhos na "terra do leite e do mel" é uma desilusão são excelentes.
    Com fotografia de Slavomir Idziac, música de Nicholas Britell e montagem de Andrew Mondshein, sem acrescentar nada ao livro, publicado entre nós pela ASA, antes respeitando-o escrupulosamente, Natalie Portman consegue um bom primeiro filme de longa-metragem, que faz justiça ao original que não pretende sequer exceder, antes dar figuração concreta às suas personagens, o que é conseguido. 
      Em termos autobiográficos, ao nível deste livro de Amos Oz só conheço "Istambul - Memórias de Uma Cidade", do turco Orhan Pamuk, editado em português pela Presença.   

Sem comentários:

Enviar um comentário