terça-feira, 21 de novembro de 2017

Único e famoso

    "Um Crime no Expresso do Oriente"/"Murder on the Orient Express", de Kenneth Branagh (2017), revisita o clássico de Agatha Christie, "o Shakespeare do romance policial", já levado ao cinema por Sidney Lumet (1974). A mim interessa-me especialmente por ser realizado e interpretado pelo homem que foi Kurt Wallender na série televisiva que lhe foi dedicada a partir dos romances de Henning Mankell.
    Com a realização limpa e hábil a que nos habituou, nomeadamente nas suas leituras cinematográficas de William Shakespeare, Branagh reserva para si o suculento papel do inefável, o único e famoso Hercule Poirot, no centro de um grupo muito apreciável de actores e actrizes, como já acontecia no filme anterior em que era interpretado por Albert Finney. E são os actores que voltam a fazer no cinema o livro de Agatha Christie, autora que deu ao género literário as suas "cartas de nobreza" ao tornar cada uma das suas obras um cadinho das paixões humanas.
   Revê-se e revive-se o misterioso assassinato no interior do Expresso do Oriente e, com carisma que rivaliza com o dos do filme anterior, todos os actores e actrizes impõem respeito: Michelle Pfeifer, Johnny Depp, Judi Dench, Penélope Cruz, Willem Dafoe em especial. O próprio realizador exagera um tanto os traços do protagonista, o que se compreende e não está mal visto, embora o Poirot de referência continue a ser Peter Ustinov.
                      
   Este romance de Agatha Christie em especial tornou-se agora uma "peça de programa" no cinema, com este filme em que Kenneth Branagh pratica algumas piruetas de câmara (os plongés sobre o interior do comboio) de que não se sai mal dada a dimensão e a forma do espaço envolvido, as personagens reduzidas a pouco mais do que marionetas.
   Com argumento de Michael Green, fotografia de Haris Zamlarloukos e música de Patrick Doyle, este um filme que apetece ver e de que se sai satisfeito. Com traços de grande cinema, impõe-se pela narrativa, pelas interpretações e pelo tratamento fílmico.
     De facto, como espectáculo "Um Crime no Expresso do Oriente" tem todos os elementos para se fazer notar, cotando-se acima da média das produções actuais. E a leitura cinematográfica do romance original está engenhosamente construída em termos fílmicos, fazendo sobressair o lado de construção artificial - as miniaturas, a minorização das personagens - para melhor destacar no drama factício a tragédia.

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