quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Desencontros

    "Reviver o Passado em Montauk"/"Return to Montauk", de Volker Schlöndorff (2017), é o mais recente filme deste cineasta central do cinema novo alemão dos anos 60/70 a estrear em Portugal. Aparentemente modesto como filme, tem a ambição da sua temática não aparente mas notória e notável.
    Max Zom/Stellan Skarsgärd é um conhecido escritor alemão. Depois da abertura em grande-plano dele a falar para a câmara, em digressão pelos Estados Unidos, leia-se New York, na companhia de Clara/Susanne Wolff, procura e reencontra Rebecca/Nina Hoss, mais nova do que ele, agora advogada, que conheceu de perto anos antes durante uma outra viagem à América.                     
    Por entre apresentações públicas do seu livro, ele consegue, graças a Walter/Niels Arestrup, rico marchand de arte, reencontrar-se com ela, que depois de alguma hesitação, o convida para um fim-de-semana em Montauk, onde eles se tinham conhecido. Aí, depois de uma noite juntos fazem confidências um ao outro.
                      return to montauk
   O que me interessa neste filme, que tem argumento de Colin Tóbin e do realizador, é o lado de fantasma do passado que Rebecca reveste para Max, muito bem sintetizado no diálogo final entre ele e Clara, e também o fantasma dela do seu namorado que morreu jovem, enquanto ele tem uma filha já com 16 anos. 
   De realização simples salvo o ancilar grande-plano inicial e com interpretações justas, sem recusar o imediato aponta para o lado escondido dos protagonistas, ancorado no passado numa teia de relações muito bem concebida, e tem muitas referências filosóficas e literárias - o trabalho da escrita, o que fica inacabado na vida, etc. - que lhe conferem densidade e a que há que estar atento. 
    E no final Max não pega na valiosa oferta de Walter. Conta com fotografia de Jerôme Alméras, música de Michael Bartlett, Caoimhim O'Raghallaigh e Max Richter e montagem de Hervé Schneid.

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