sábado, 16 de dezembro de 2017

Não venhas tarde

    O mais recente filme de Woody Allen, "Roda  Gigante"/"Wonder Wheel" (2017), é um melodrama dos anos 50 passado nos anos 50 do século XX. Que seja plenamente conseguido não deixa de ser um feito notável.
   Um casal em impasse como tal, Humpty/Jim Belushi e Ginny/Kate Winslet, ela com um filho pequeno pirómano, Richie/Jack Gore, ele com uma filha adulta, Carolina/Juno Temple, que surge de repente no início em fuga do marido gangster que denunciou, entra em maior turbulência por causa do vigia do posto 7 da praia de Coney Island, o letrado Mickey/JustinTimberlake, que é o narrador do filme.
    Primeiro cai Ginny, depois Carolina perante o salva-vidas e, enquanto Humpty vive entre o seu trabalho no carrocel e o restaurante e continua a ir à pesca, Ginny encontra a solução desesperada em elipse no final do filme. Mulheres que tropeçam em homens que tropeçam em mulheres, mulheres que se atropelam e homens que estabelecem a confusão. E a idade conta, embora a mais nova repita os argumentos da mais velha quando tinha a sua idade; o amor.
                      https://observatoriodocinema.bol.uol.com.br/wp-content/uploads/2017/10/roda-gigante.jpg
   Com interpretações excepcionais de Kate Winslet e Jim Belushi, "Roda Gigante" é uma obra-prima de Woody Allen, para o que a excepcional fotografia de Vittorio Storaro contribui de forma importante. Mas decisiva é a realização do cineasta, também argumentista, que aqui revela uma qualidade superior para além da rotina em que às vezes se deixa embalar e nos embala.
   O cartaz que se vê ao fundo da imagem é do filme "Winchester 73", de Anthony Mann (1950), o que permite uma localização temporal precisa em New York sem necessitar de mais do que uma referência de passagem a Greenwich Village. "Não venhas tarde" diz o pai à a filha na noite fatal em que ela resolve regressar a pé a casa.
   Pouco falado a não ser quando cheira a escândalo, Woody Allen continua uma obra do maior relevo no cinema contemporâneo, que por vezes atinge picos como o deste filme absolutamente extraordinários. Um destes dias os Cahiers du Cinéma e a Cinemateca Portuguesa vão ter mais uma epifania

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