segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

O filho do Doc

      Em 2003, um veterano da Guerra do Vietname, Larry ´Doc´ Shepherd/Steve Carell, procura dois antigos companheiros de armas, Sal Nealon/Bryan Cranston e o Rev. Richard Mueller/Laurence Fishburne, para o acompanharem na recepção do corpo do seu filho, Larry como ele, morto em combate em Bagdad, até ao respectivo funeral. Em resumo é disto que trata "Derradeira Viagem"/"Last Flag Flying" (2017), o mais recente filme do texano Richard Linklater, já responsável por filmes apreciáveis de que destaco "Antes do Amanhecer"/"Before Sunrise" (1995), "Antes do Anoitecer"/"Before Sunset" (2014), "Antes da Meia-Noite"/"Before Midnight" (2013) e "Boyhood: Momentos de uma Vida"/"Boyhood" (2014).
      Sem o preciosismo formal e estético dos seus filmes anteriores, o cineasta vai direito ao seu assunto e ao que vivem as suas personagens, em andanças com o caixão que às tantas se lhes adianta porque, depois da recusa paterna da inumação oficial em Arlington, na passagem por New York os três perdem o comboio em que ele é transportado .
      Muito centrado no diálogo, o filme desenrola-se sem concessões nas questiúnculas entre os três amigos, com especial ênfase nas que opõem Sal e o clérigo, sem esquecer o problema pessoal do Doc. Mas a viagem é pretexto para o relato das verdadeiras circunstâncias da morte do filho deste feito pelo seu amigo Washington/J. Quinton Johnson, que esteve presente nesse momento, e para recordações penosas do Vietname que os três partilham.
                       http://cinemametropolis.com/media/k2/items/cache/21af8e4730dd4e14142c6fc7f3cea199_L.jpg
      Bem firmado na articulação entre o presente e os diferentes passados, "Derradeira Viagem" faz de passagem a crítica de guerra e, no fundo, o louvor da amizade, o que, a partir de personagens bem desenhadas na sua época, constitui o essencial de um filme simples mas tocante em que o passado só é convocado por palavras, não mostrado.
       Com argumento de Richard Linklater, também co-produtor, e Darryl Ponicsan  a partir de novela do segundo, este é um filme que sabe preservar o humor naquela situação fúnebre graças ao excelente trabalho dos actores, com destaque para Bryan Cranston. Num filme de características clássicas, com fotografia de Shane F. Kelly e música de Graham Reynolds, Richard Linklater volta a mostrar que é um cineasta com o qual se deve contar no melhor do actual cinema americano.
       Muitas palavras, alguma acrimónia, muita complacência no final, em tom de melodrama. Mas aguenta-se. Com base noutro romance do mesmo escritor com as personagens correspondentes no Vietname tinha sido realizado "O Último Dever"/"The Last Detail", de Hal Hashby (1973), com argumento de Robert Towne.

Sem comentários:

Enviar um comentário