segunda-feira, 18 de junho de 2018

Jogar de novo

     O actual "Eva", de Benoît Jacquot com Isabelle Huppert (2018) recupera e revisita o filme homónimo de Joseph Losey com Jeanne Moreau (1962) a partir do romance de James Hadler Chase de forma exemplar.
      A mesma protagonista, agora mais velha, acompanhante de luxo, com o mesmo apaixonado, Bertrand/Gaspard Ulliel, com o mesmo esquema pulsional, identificado por Gilles Deleuze em "A Imagem-Movimento". Um estilo já praticado por Jacqus Doillon em "Diário de uma Criada de Quarto"/"Le journal d'une femme de chambre" com Léa Seydoux (2015), moldado sobre o também pulsional filme homónimo de Luis Buñuel com Jeanne Moreau (1963).
    O percurso dele torna-se muito acidentado, por entre aldrabices, simulações e mentiras, enquanto ela, esfíngica, o magnetiza de uma forma de que ele não pode nem quer libertar-se .Apenas Veneza é substituída por França e o teatro se evidencia com grande pertinência - como aliás o cinema em final de sessão.
                                            
     O cineasta volta a alternar o plano médio com planos aproximados de rosto, volta a usar os fétiches (o brinco, o chicote) e a cores revisita um imaginário que Losey levou por caminhos originais, reinventando-o como novo, que para a maioria dos espectadores será. O filme começa por um homicídio por omissão, que deixa aberta a sugestão de homossexualidade, e termina sobre um homem esfarrapado que tentou fazer-se passar pelo que não era, tentando inventar canhestramente a partir da realidade que vive e da personagem de Eva.
      Com Julia Roy como Caroline, a namorada de Bertrand, e Marc Barbé como Georges, o marido de Eva, preso por traficâncias em obras de arte, o filme tem argumento do realizador e de Gilles Taurand, fotografia de Julien Hirsch, música de Bruno Coulais e montagem de Julie Gregory.
    Benoît Jacquot volta a definir o espaço narrativo e cinematográfico em que se move na actualidade com actores excelentes e uma narrativa que continua pregnante, intemporal, tratada exemplarmente em termos interpretativos e técnicos (sobre o cineasta ver "A festa da ópera", de 4 de Fevereiro de 2018).

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