sábado, 14 de julho de 2018

Atravessar o deserto

   "O Meu Amigo Pete"/"Lean on Pete", de Andrew Haigh (2017), é a quarta longa-metragem deste realizador inglês, a seguir a "45 Anos"/"45 Years" (2015), e deixou-me uma excelente impressão.
   Com argumento do próprio realizador baseado em novela de Willy Vlantin, acompanha um rapaz de quinze anos, Charley/Charlie Plummer, desde a casa paterna, Ray/Travis Fimmel, em Portland, Oregon, até à casa da tia, Margy/Alison Elliott em Laramie, Wyoming, num percurso inesperado durante o qual ele encontra Del/Steve Buscemi, criador de cavalos de corrida de curta extensão, e a sua jóckey Bonnie/Chloë Savigny.
   Na companhia destes - ele uma personagem característica e saborosa, que detesta o shopping e os computadores - Charley afeiçoa-se a um cavalo perdedor, com o nome de Lean on Pete (em português "inclinação por Pete"), com o qual acaba por fugir para evitar o seu envio para a morte no México. Entretanto, tem a notícia da morte do pai, passa a procurar a tia e o seu afecto pelo cavalo torna-se maior. Quando se encontra só com ele em pleno deserto americano conversa com ele ("quem desespera dos homens...", escrevia o outro), até ao acidente de automóvel fatal.
                      
     Quer isto dizer que a viagem de Charley é de iniciação, levando-o do caos paterno para a luz de Laramie - a tia Margy trabalha na biblioteca pública e ele aí poderá prosseguir os seus estudos. Atrás de si fica a memória de bons americanos que o ajudaram, da natureza envolvente, diurna e nocturna, e sobretudo do seu amigo Lean on Pete.
    Com uma excelente realização, atenta às personagens e aos cenários, com particular relevo para a natureza no seu lado cósmico, "O Meu Amigo Pete" tem excelente interpretação de Charlie Plummer muito bem acompanhado em especial por Steve Buscemi, fotografia de Magnus Nordenhof Jonck, música de James Edward Barker e montagem de Jonathan Alberts. Apanha o sopro de um jovem perdido entre humanos e na natureza, que mesmo depois da travessia do deserto e da morte de Lean on Pete continua a sonhar com este.
     Foi considerado pelo The New York Times como um dos dez melhores filmes do ano até agora, primeiros seis meses de 2018. Não tem nada a ver com o cinema que se faz actualmente na América salvo na área do cinema independente e por isso surpreende ainda mais. E Andrew Haigh é decididamente um nome a reter e acompanhar no cinema actual.

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