"Zama" de Lucrecia Martel (2017) é o mais recente filme desta grande cineasta argentina, um filme moderno como os seus anteriores e com uma excelente realização, com classe, não apenas qualidade.
A partir do romance homónimo do também argentino Antonio Di Benedetto, obra-prima da literatura latino-americana, acompanha o protagonista, Don Diego de Zama/Daniel Giménez Cacho, nas terras do fim do mundo a que foi parar como corregedor colonial, que a encantadora Luciana Piñares de Lusugo/Lola Dueñas não consegue afastar do desejo de ser deslocado para outro lugar.
Alucinado com a renitência do governador espanhol/Daniel Veronese em escrever ao rei de Espanha, depois de ter cedido no relatório exigido aceita dar caça ao perseguido Vicuña Porto/Matheus Nachtergaele, um brasileiro que não vence e lhe decepa os antebraços.
Com a protecção ao escritor Manuel Fernandez/Nahuel Cano bem resolvida, o filme de Lucrecia Martel desenrola-se serenamente entre as suas diferentes peripécias, sem se tomar como filme de acção, antes contemplando em planos longos a partir de uma câmara fixa personagens perdidas numa terra belíssima mas agreste e desértica, estranha, onde Diego de Zama apodrece.
Muito bem resolvido em termos visuais por uma excelente fotografia do português Rui Poças, com utilização sistemática dos vazios do espaço e o cheiro de morte que se desprende dos membros decepados, este um excelente filme que termina, como os anteriores da cineasta, sobre águas paradas que o protagonista com os antebraços decepados atravessa no fundo de um barco.
Construído em exigentes planos fixos e com desfocagens calculadas ao fundo, este filme muito bem iluminado, enquadrado e realizado por Lucrecia Martel confirma que o seu nome não é convocado em vão como dos melhores do cinema contemporâneo.
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