sexta-feira, 26 de abril de 2019

A dívida

    Segunda longa-metragem de ficção do kazaque Sergei Dvortsevoy depois de "Tulpan" (2008), chegou-nos agora "Ayka" (2018), um filme impressionante e muito bom, com argumento do cineasta, também co-produtor, e de Gennadiy Ostrovskiy.
   Segue de início a fim Aika/Sanial Yeslyamova, oriunda do Quirgistão e imigrante ilegal em Moscovo, que acaba de ter um filho que abandona na maternidade de onde foge. Logo a partir daí estamos perante uma mulher solitária.
                    
    O patrão para quem trabalhava não lhe paga e ela tenta arranjar outro trabalho enquanto se debate com as consequências do parto. Sempre só. O seu fito é arranjar 200 mil rublos que lhe tinham sido emprestados para montar uma fabriqueta de costura e cuja restituição lhe é agora exigida sob ameaça - o que ela fez com o dinheiro é muito bem elidido.. 
   Acaba por ser ajudada pela empregada de um veterinário que dá pelos primeiros nomes de Eisenstein, Sergei Mikhailovitch, Zhipara Abdilaeva e Sergey Mazur respectivamente, e é na sua zoomorfização que Ayka se lembra do seu filho como solução para o seu problema.
   Seco e duro, com largo recurso ao afectivo grande-plano e à câmara ao ombro, sem música "Ayka" de Sergei Dvortsevoy tem fotografia de Jolanta Dylewska e montagem do realizador e de Petar Markovic. Sem guardar distância alguma em relação à protagonista, atinge grande violência.
   Um belo filme sobre a infame violência feita às mulheres de um cineasta que começou por trabalhar no documentário. Melhor actriz em Cannes e melhor filme em Cottbus. Assim, contra o prognóstico de Godard, o cinema sobrevive à época em que nasceu.

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