quarta-feira, 20 de setembro de 2017

O jogo da morte

   "Detroit", de Kathryn Bigelow (2017), revisita, 50 anos depois, os motins daquela cidade no Verão de 1967 - em Hollywood foi o ano da queda do Código Hayes e de "Bonnie & Clyde", de Arthue Penn. Não estando apurados todos os factos, o argumento de Mark Boal dramatiza parte das cenas.
   Motivados pelo segregacionismo de então, os motins são reconstituídos com audácia e verismo até o filme se centrar num grupo de negros no The Algier Motel, onde a partir de uma aparentemente inocente provocação se estabelece a prisão violenta por um grupo de polícias de um grupo de negros, entre os quais os membros de um grupo de cantores, The Dramatics.
  Contando interpretações exemplares, estabelece-se então, depois de muita confusão e pancada, o "jogo da morte", conhecido por qualquer bando de torturadores. "Detroit" assume então o pico da sua violência individualizada e consegue transmitir muito bem o horror inominável da situação.
                    https://media.salon.com/2017/07/detroit-film-620x412.jpg
     Terminando com um julgamento dos três polícias implicados por um júri de brancos, o filme de Kathryn Bigelow cumpre o seu programa de denúncia de uma situação brutal em todos os seus pormenores. Inclui imagens fotográficas de época, a preto e branco, do exterior do The Algier Motel e, exemplarmente, o líder dos The Dramatics afasta-se no final para se dedicar a cânticos religiosos.
     Numa sociedade violenta como é a americana, as tensões raciais agravam os simples casos de polícia, o que aconteceu então e continua a acontecer perante a complacência dos tribunais. Este filme cumpre uma nobre missão ao recordar um caso exemplar de forma perfeita. 
    Com fotografia de Barry Ackroyd, música de James Newton Howard e montagem de William Goldenberg e Harry Yoon, a realizadora de "Estado de Guerra"/"The Hurt Locker" (2008) e "00.30 A Hora Negra"/"Zero Dark Thirty" (2012) continua a escolher os assuntos mais difíceis e espinhosos para os seus filmes de modo a confirmar-se como um dos cineastas mais apreciados do seu país na actualidade.

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