sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Filme negro

  "Suburbicon" de George Clooney (2017) beneficia muito do argumento em que participam Joel e Ethan Coen ao lado de Grant Heslov e do realizador, o que lhe dá o carácter de impiedoso filme negro. E o subúrbio dos anos 50 de que trata é a América actual.
  Construído a par e passo desde a morte de Rose/Julianne Moore, mulher de Gardner/Matt Damon, mãe de Nicky/Noah Jupe e irmã de Margaret/Julianne Moore e Mitch/Gary Basarado, no ninho da família deixa a pouco e pouco perceber o que de facto aconteceu e prepara com o que lhe sucede, aquilo que vai acontecer, antecipando-lhe os sinais.
                       http://www.arrobanerd.com.br/wp-content/uploads/2017/12/suburbicon-bem-vindos-ao-paraiso-critica.jpg
      Muito na linha dos Coen temática e narrativamente, o filme situa-se também na obra de George Clooney-cineasta pela sua visão implacável da América. E aqui o que está em causa é o racismo, com muro e tudo, e o enriquecimento a qualquer preço, mesmo sob as proclamadas melhores intenções. Aliás, os protagonistas mostram uma burrice exemplar no que fazem perante os executores com sabor de opereta.
      Como no melhor cinema americano acontece, a realidade não coincide com as aparências mas é através do que é mostrado delas que podemos aceder ao que as personagens são, na verdade querem e significam. Será isso mesmo parte da inteligência estúpida e da estupidez inteligente de que os Coen têm falado recorrentemente nos seus filmes e Clooney, que tem trabalhado com eles, aqui retoma.
     O filme beneficia muito das interpretações, da realização, da fotografia de Robert Elswit, da música de Alexander Desplat e da montagem de Stephen Merrion. Mas é na sua construção narrativa e fílmica, que desafia a passividade do espectador, que tem o seu melhor. Isto muito embora a visível intenção subjacente ao filme limite o seu alcance.

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