sábado, 29 de dezembro de 2018

Negro inútil

     "Dogman" do italiano Matteo Garrone (2018) é, na linha do seu famoso "Gomorra" (2011), um filme sobre o meio criminal, no caso um pequeno meio criminal em que Marcello/Marcello Fonte participa como vendedor de droga.
     Porém, cidadão respeitável ele tem o seu estabelecimento de canídeos, partilha a guarda da filha e é bem acolhido na sociedade da pequena cidade, que a certa altura se coloca a questão de eliminar Simoncino/Edoardo Pesce, o brutamontes que ele abastece, dele se aproveita e o trata mal.
     Preso em vez do outro por um assalto em que apenas consentiu, quando libertado um ano depois sem ter falado e muito batido de novo após um novo assalto ele resolve eliminá-lo "para recuperar o respeito", fazendo o que os outros não tinham levado até ao fim.
                                                        
     O filme é deprimente mas muito bom sobre duas ou três questões candentes em qualquer meio - a violência, a lealdade, o respeito - e o final sobre o vazio do campo de jogos vem, como o de "História de um Fotógrafo"/"Blow Up" de Michelangelo Antonioni (1966), apontar para o vazio de tudo naquela luta solitária de um homem insignificante mas que gosta de cães.
     Muito bem resolvido o grande-plano final dele, inexpressivo, desalentado pela inutilidade de tudo. Aliás, a figura de Marcello está muito bem trabalhada pelo actor, que não conhecia.
    Com o realizador como co-produtor e co-argumentista, tem fotografia de Nicolai Brüel, música de Michele Braga e montagem de Marco Spoletini .A interpretação, notável, de Marcello Fonte valeu-lhe o prémio para a melhor interpretação masculina no Festival de Cannes deste ano.

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