domingo, 22 de outubro de 2017

A ausência

   "Os Fantasmas de Ismael"/"Les fantômes d'Ismaël" de Arnaud Desplechin (2017) é mais um filme muito bom deste grande cineasta francês. Com uma narrativa conhecida, a partir de argumento de Lea Mysius, Julie Peyr e do realizador, a primeira mulher do protagonista, Ismael Vuillard/Mathieu Amalric, que desaparecera 21 anos antes, Carlotta Bloom/Marion Cotillard, regressa depois de ele ter voltado a casar com Sylvia/Charlotte Gainsbourg, astrónoma. 
   Mas as coisas não se ficam por aí, pois ele tem um irmão, Ivan Dedalus/Louis Garrel, diplomata no exterior e cuja memória o atormenta. Realizador de cinema, Ismael transfere para o filme que está a fazer a personagem do seu irmão, enquanto o pai de Carlotta, Henri Bloom/László Szabo, cineasta como ele, acaba por ter um colapso cardíaco ao saber do regresso da filha.
    E há ainda uma terceira mulher, Arielle-Faunia/Alba Rohrwacher num papel duplo junto de cada um dos dois irmãos, mais um fantasma do protagonista mas que vem desempatar ao empatar mais.
                      
  Variado, dispersivo e com grandes actores, este é um filme que cativa pelas melhores razões, denso e complexificado pelo carácter judeu das suas personagens principais. E é do discurso de Henri Bloom quando homenageado em Telavive durante um festival de cinema que sai a temática da ausência, num filme em que o outro realizador, o próprio Ismael, se ausenta das filmagens.
  Com alusões a Hitchcock em Carlotta e a James Joyce com os nomes de Bloom e Dedalus, este mais um grande filme de um excelente realizador francês que não facilita a vida ao espectador ignorante, que espera que tudo lhe seja explicado claramente. É, pois, preciso apanhar todas as pistas que, como pontas soltas, são deixadas ao longo do filme para o compreender plenamente.
   Vejam "Os Fantasmas de Ismael", que tem excelente fotografia de Irine Lubtchansky, com as referências todas que ele convoca, também sobre o próprio cinema, e compreendam-no a partir da sua complexidade exigente. A este nível o cinema interessa sempre mais.

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