domingo, 15 de outubro de 2017

Duas vezes dois irmãos

    "Good Time" é a segunda longa-metragem de ficção dos irmãos Benny e Josh Safdie (2017), que têm também no seu activo dois documentários longos e algumas curtas-metragens de ficção e documentário.
    Connie Nikas/Robert Pattinson assalta um banco com o seu irmão Nick/Bennie Safdie, que sofre de atraso mental. Transferido este para a prisãol, trata-se para Connie de o fazer sair. Só que em vez de Nick liberta outro, Ray/Buddy Durees, em liberdade condicional e preso, com ligações ao meio da droga.
    Com argumento de Ronald Bronstein e Josh Safdie, uma preparação que envolveu personagens reais e filmado em New York em cenários reais, "Good Time" torna-se surpeendente sobretudo porque os cineastas filmam sofregamente em grande proximidade com os rostos das personagens em espaços nocturnos escassamente iluminados, do que resulta um filme muito elaborado em larga medida dependente dos actores.
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        E a proximidade é tal que nem sequer deixa espaço para o humor que não seja negro, o que torna o filme de difícil acompanhamento embora de méritos inegáveis. É de realçar o feito de se passar na sua maior parte numa mesma noite. Destaque para a fotografia de Sean Price Williams, para a música de Oneohtrix Point Never e para a montagem dos dois argumentistas.
       Que o filme parta das sessões de terapia de Nick e com elas acabe parece mostrar que as personagens não vivem longe de um universo concentracionário, sem saída, e precisam todas de tratamento. Por essas sessões passa o pouco de normalidade deste filme, embora haja também o envolvimento da mãe dos dois irmãos.
       Connie e Ray ainda tentam um golpe de droga, mas o caminho deles é de perdição, como é de regra no filme negro, pobres diabos entregues a si próprios numa cidade imensa que os ignora, só dá por eles quando constituem problema. E aí o contraste com a instituição torna-se mais claro.
      Ao mostrar como as coisas podem acontecer e acontecem entre gente miúda, peixe miúdo, este é um filme sem nada de perverso e está muito bem feito, sem excesso de melodrama, duro e seco. E atenção aos irmãos Safdie, pois neste filme rodado em película o cinema americano renasce.

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