quinta-feira, 21 de março de 2019

Contado por ela

   "Varda par Agnès" (2018) é o mais recente filme, autobiográfico e explicativo, da célebre realizadora belga que foi parte fundamental da nouvelle vague francesa. Co-realizado e co-escrito com Didier Rouget, divide-se em duas partes, duas conversas que partem de uma conferência dela sobre si própria numa sala de teatro.
    Sob o signo de imaginação, criação, partilha, com o seu ar despretensioso ela fala na primeira conversa da sua obra, de que mostra excertos de filmes, desde os seus inícios em 1954  até ao ano 2000. Mas fala também com gente que  nesses filmes participou, como é o caso de Sandrine Bonnaire. É um longo percurso descrito no seu essencial como realizadora, sem esquecer Jacques Demy mas centrado na sua própria vida e obra, feminismo incluído.
                     
     Na segunda conversa ela alarga-se sobre as câmaras digitais e o que com elas lhe foi possível fazer em cinema e em instalações de grande inventiva e criatividade, com recurso aos seus próprios filmes e a ecrãs múltiplos. Por ali passa um auto-retrato de Agnès Varda por si própria, de novo com convidados, ela que recusa o epíteto de artista visual embora também o seja.
     Em ambas as partes ela desenvolve a sua relação com o documentário, parte importante da sua obra presente mesmo em filmes de ficção e que na última fase se torna claramente dominante. Além do que explica em ambas as partes as suas opções cinematográficas e estéticas filme a filme, de que a preferência pelo travelling é reveladora.
    Tem montagem da Varda e Nicolas Longinotti.
    Foi um enorme prazer a noite da passada segunda-feira no Arte, com este filme e outros filmes dela integrada, "Duas Horas na Vida de Uma Mulher"/"Cléo de 5 à 7" (1962) e "Sem Eira Nem Beira"/"Sans toit ni loi" (1985), no ciclo "femmes, femmes" daquele canal.De facto ela é a mulher mais importante da história do cinema até hoje.
    Desejo-lhe que chegue aos 100 anos. Pelo menos. Sobre Agnès Varda ver "É melhor a dois", de 18 de Fevereiro de 2018.

Sem comentários:

Enviar um comentário