domingo, 24 de março de 2019

Tornar-se xamã

    Co-produção luso-brasileira, "Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos", de João Salaviza e Renée Nader Messora (2018), é um filme em jeito de documentário com realização, argumento e montagem de ambos.
    Filmado na aldeia Pedra Branca, no estado de Tocantins, no norte do Brasil com a participação de indígenas locais, tem como protagonistas Henrique Ihjãc Krahô e Raene Kôtô Krahô, um jovem casal da tribo Krahô com um filho pequeno. Tudo se passa depois da morte do pai dele, de cuja memória há que se separar. 
   No processo ele encontra um xamã que lhe confirma que ele próprio, Henrique, se está a transformar num novo xamã, o que ele não quer. Para escapar ao mestre Arara que o persegue, Henrique vai para uma pequena cidade, Itacajá, dizendo-se doente, e só aceita regressar depois de em  sonho ver uma cidade com chamas na noite.                
                      
    Logo na primeira parte do filme há as palavras do avô de Henrique sobre a sua infância e o massacre dos fazendeiros. Com atenção à vida comum dos índios Krahô, tem aberto interesse antropológico, o que nos nossos dias não é frequente.
    No envolvimento de brasileiros brancos, João Salaviza recupera o seu estilo de relação de autoridade com um jovem, que vem de "Montanha" (2015) sobretudo.
    Chove no final, com a cantoria do título, e o último plano na cascata sobre o rio é de uma extraordinária beleza. Na montagem com os autores, igualmente co-produtores,  está também José Edgar Feldman.
    Os cineastas disseram querer denunciar com este filme o genocídio dos indígenas brasiliros, com a exigência da demarcação imediata de terras, o que faço questão de deixar aqui escrito a propósito de uma obra que acrescenta de modo relevante o nosso conhecimento, como se exige da arte do cinema.
     Prémio especial do júri da secção Un certain regard do Festival de Cannes de 2018.

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