domingo, 11 de junho de 2017

O livro de Rose

    "Escritos Secretos"/"The Secret Scripture" é o mais recente filme de Jim Sheridan (2016), o mais conhecido irlandês do cinema internacional na actualidade, um cineasta sério de talento relativo - apesar da sua boa vontade não atinge o nível dos anteriores famosos de origem irlandesa no cinema, John Ford e John Huston, nem o de Sergio Leone, que como ele se moveu entre o Velho e o Novo Continente.
    Mesmo assim, como os anteriores este seu mais recente filme oferece motivos de interesse na história da "mulher do aviador", Rose/Rooney Mara, contada por Lady Rose/Vanessa Redgrave, idosa de há muito internada num hospital psiquiátrico, a partir do que sobre a sua vida ela própria escreveu.
    Enfrentando bem a reclusão hospitalar, o filme tenta explorá-la para a compreender e denunciar mas sem assumir a clareza narrativa exigível e desejável relativamente ao passado, o que prejudica a sua coerência interna e a sua plena inteligibilidade. 
                      The Secret Scripture
    De facto, contado num flash-back arbitrário, não absolutamente necessário, em "imagem-recordação" nos termos deleuzianos, nota-se a falta de clareza e de verdade nessa recordação no que respeita ao filho da protagonista. Mais e pior, não é suficientemente explicitada a "personagem-testemunha" da bifurcação do filme e da sua narrativa, o que o torna pouco claro embora haja que distinguir o plano do escrito e o do próprio filme. Escusadamente elaborado, no limite do confuso, rebuscado e manipulatório por não cumprir regras mínimas no que mostra e no que cada personagem sabe.
    Com argumento do cineasta e de Johnny Ferguson baseado em novela de Sebastian Barry, "Escritos Secretos" faz uma análise quanto se pode perceber pertinente da Irlanda católica, assumindo um tom de melodrama declarado em cristal discutível. No fim tudo é demasiado forçado, o que só a lógica do melodrama cinematográfico pode justificar.
     Filmado em cenários naturais na Irlanda, insiste bem na Sonata "Clair de Lune" de Beethoven, com outros motivos musicais geridos de forma discutível, e com bons actores assume contornos visuais e sonoros por vezes apreciáveis. Melhor quando arrisca e investe mais, pior quando se limita à ilustração académica pretensiosa como aqui acontece, Jim Sheridan continua a ser um cineasta a não perder de vista.

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