quinta-feira, 8 de junho de 2017

Uma experiência

    No quadro de um pomposamente intitulado "festival do documentário", o Arte mostrou na passada terça-feira, depois de "Les derniers hommes  d'Alep", de Feras Fayyad e Steen Johannessen (2017), um documento dinamarquês realista sobre a violentíssima guerra em curso na Síria, o último filme do franco-cambodjano Rithy Panh, "Exil" (2016).
    O filme do autor de "A Imagem Que Falta"/"L'image manquante" (2013) é uma nova variação sobre o Cambodja da sua memória, com recurso a documentários da época e uma colagem de textos célebres colocados no comentário interior da personagem masculina encenada a cores na actualidade, constrangida a um espaço reduzido, carceral.
     Sabe-se da gravidade dos acontecimentos, até ao genocídio de uma auto-proclamada revolução cambodjana nos anos 67/70, que aqui se mostra estribada no pensamento de Mao, o que atendendo à proximidade geográfica é compreensível. As imagens a preto e branco de época, sobretudo de manifestantes exaltados em favor do ditador, imagens por vezes já em mau estado, são testemunhos de um tempo passado que não deve ser esquecido.  
                    
   Agora o discurso literário posto na cabeça do exilado encenado na actualidade, para além de enquadrar as actualidades contém uma carga poética que envolve o filme num registo rememorativo que, à distância e com distanciamento, faz a apologia das vítimas e a condenação dos algozes mas sobretudo expressa o ponto de vista da experiência do exílio.
   Por aquilo que dele conheço, Rithy Panh é um cineasta inteligente que neste "Exil" deixa transparecer um certo encantamento da experiência do exílio em termos subjectivos, que é indispensável também à distância conhecer, pelo que este filme faz inteiro sentido na sua obra
   Neste momento interessa-me, contudo, mais o documentário sobre a guerra na Síria pela sua actualidade e pela sua verdade imediata e brutal, aquela em que se debateram os "capacetes brancos" durante o cerco a Alepo em 2016 - um filme que está disponível na internet -, com a ideia de que daqui a uns anos alguém poderá fazer sobre essa guerra um filme semelhante ao de Rithy Panh.

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