domingo, 16 de julho de 2017

A loucura do ouro

   No início dos anos 80 do século XX corre a notícia de jazidas de ouro na Serra Pelada, no Brasil. Rapidamente se estabelece a corrida ao ouro, em massa. É este o ponto de partida de "Serra Pelada", filme de 2013 de Heitor Dahlia.
   Na multidão que se desloca acompanhamos Juliano/Juliano Cazarré e Joaquim/Júlio Andrade que vão encontrar, entre muitos outros, Lindo Rico/Wagner Mora e o Coronel Carvalho/Matheus Nachtergaele, e com eles e outros problemas muito difíceis. Nomeadamente o de saber se o ouro encontrado é de quem o descobriu ou do dono da terra, o de saber se aquilo que cada um tem por seu é respeitado pelos outros
   Com muita energia e grandes actores, o filme não pára de nos surpreender enquanto avança por entre conflitos primitivos suscitados pela cupidez do ouro e pelas rivalidades daí decorrentes. Não se chega a saber se, naquela perdição do ouro, se salva alguém a não ser aquele que consegue regressar a casa, em São Paulo. 
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   Matar e morrer faz parte do dia a dia da Serra, do "barranquinho", e a violência instalada não tem limites e não poupa ninguém. As mulheres presentes e o sexo vêm tornar tudo mais devastador por motivo de novas disputas e rivalidades. É essa a história deste filme que nos deixa esmagados como as suas personagens e as suas peripécias.
   Excelentes a fotografia, viva e contrastada, de Lito Mendes da Rocha e a montagem de Marcio Hashimoto, além de música bem escolhida. Este um filme que nos devia ter chegado mais tempo e só agora vi. 
   O ouro que suscita a pulsão da sua posse e o garimpo encontra neste filme, com argumento do realizador e Vera Egito, um retrato poderoso e muito eloquente. A violência do trabalho da sua extracção, que já tinha sido objecto da atenção de Sebastião Salgado, surge com clareza em imagens fortes. Ele ali instaurou a loucura pela sua posse e levou à perdição generalizada. 
   Mais do que Chaplin em "A Quimera do Ouro"/The Gold Rush" (1925), Stroheim tinha em "Aves de Rapina"/Greed" (1924) passado por aqui.

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