terça-feira, 2 de maio de 2017

A miséria do mundo

  O Arte mostrou no início desta semana "I Pay for Your Story" (2017), o último filme do documentarista de origem polaca Lech Kowalski, um filme precedido de referências críticas muito elogiosas. 
  Rodado em Utica, a 4H 30M de carro a norte de New York, onde cresceu, é um documento impressionante sobre gente marginalizada numa sociedade deprimida. Com a promessa de lhes pagar por contarem para a câmara a sua história, o cineasta mostra e ouve neste documentário uma série de gente que vive entre o desemprego, a violência, as drogas duras (consumo e tráfico) e estadias sucessivas na prisão. De ambos os sexos e na sua maioria afro-americanos .
   Impõem-se nesses depoimentos as comparações com o que a cidade foi 30 anos antes, quando era um centro industrial, e o espírito de resistência de quem afirma hoje sobreviver e lutar por uma vida melhor para os seus filhos sem ter desistido da sua própria vida. Com um jeito descontraído, sem mostrar o interior das habitações mas permitindo a evocação dos estabelecimentos locais outrora mais famosos, o realizador reúne cada grupo familiar ou de amigos para os ouvir, um de cada vez. 
                   
     A imagem de "terra da grande promessa" que temos da América sofre aqui um forte desmentido com o apresentar de uma sua outra face, nada apelativa e muito deprimente. Que no país tido por o mais rico do mundo gente viva daquela maneira naquele meio é um choque para que o filme nos convida e a que devemos submeter-nos.
    Não se trata do simples trabalhador vítima de uma crise profunda, mas de quem não encontrou um lugar que seja seu numa sociedade que seja sua. Alguns lutam ainda por ele, embora se perceba que manter o "sonho americano" naquelas condições seja muito difícil. Mas a reacção mostrada, de não desistir, não baixar os braços nem se deixar abater, é exemplar.
    Um lado de improviso e uma grande empatia fazem deste documentário interactivo, em que no final o cineasta fala sobre si próprio, uma obra preciosa e muito esclarecedora. É urgente conhecer esta outra face do sonho. É urgente conhecer estes desconhecidos que não ficam na história embora dela façam parte. 
    O filme passa na edição deste ano do IndieLisboa, a 14ª, que começa amanhã, dia 3 de Maio.

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