sábado, 6 de maio de 2017

O explorador

    Sinto-me feliz por ter podido assistir ao mais recente filme de James Gray, "A Cidade Perdida de Z"/"The Lost City of Z" (2016), pois trata-se de mais um daquele que considero o melhor cineasta americano da actualidade.
    A narrativa verídica de um inglês, Percy Fawcett/Charlie Hunnam, que no início do século XX por três vezes, a última acompanhado pelo seu filho mais velho, Jack/Tom Holland, parte para a Amazónia, na fronteira entre a Bolívia e o Brasil, primeiro para cartografar fronteiras por incumbência da Sociedade de Geografia Britânica, depois para encontrar uma cidade mítica e desconhecida a que chamou Z, tem os motivos de interesse que o vulgar filme de aventuras não tem.
   Mas é o próprio trabalho fílmico de James Gray que neste filme me interessa, com uma planificação rigorosa sobre as personagens que plano a plano reúne e separa, aproxima e afasta segundo regras tipicamente cinematográficas. Contra a rigidez da sociedade inglesa, a grande aventura no desconhecido impõe-se ao protagonista como um projecto conradiano num continente diferente. 
                     The Lost City Of Z
     Quer em termos espaciais - no interior do grupo de exploradores, no cerco pelos indígenas - quer em termos temporais - o entrecortar das expedições pelo regresso a Inglaterra, com os novos filhos do casal e a passagem pela frente da Guerra Mundial - "A Cidade Perdida de Oz" de James Gray está muito bem trabalhado e resolvido até ao fim. Com produção e argumento do cineasta baseado em livro de David Green, o filme explica o que é explicável sem se dispensar de deixar a sua parte ao mistério. 
     Sienna Miller como Nina Fawcett e um irreconhecível Robert Pattinson como Henry Costin dão excelente réplica num filme que vale por uma mise en scène segura, leve e cerrada, revelando influências da banda desenhada. A fotografia de Darius Khondji é muito boa e a música de Christopher Spelman sempre justa, enquanto a reconstituição de época está sempre certa, com os exteriores da selva e do rio rodados na Colômbia.
    Ter compreendido a originalidade e a precedência das culturas que encontrou foi fundamental para este explorador pioneiro da Amazónia, ao ponto de aí ter resolvido, quanto se sabe, ficar. E lembro que por esta época Robert Flaherty trabalhava ele também de forma pioneira na Baía do Hudson para o seu pioneiro documentário "Nannok of the North" (1922), um filme cheio de peripécias que o tornaram muito difícil de concluir.
    Claro que a este seu melhor nível o cinema americano continua a ser muito bom. O seu problema actual é, contra o que acontecia na "era dourada" dos estúdios, salvo esporadicamente nos géneros ter uma produção média muito fraca. Agora anuncia-se para breve o mais recente filme de Terrence Malick, "Música a Música"/"Song to Song" (2017), que será de novo do melhor do cinema americano.

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