sexta-feira, 19 de maio de 2017

Bom começo

   Jordan Peele, mais conhecido como actor cómico, resolveu ele também afoitar-se à realização em "Foge"/"Get Out" (2017) que, com argumento seu, é um surpeendente bom primeiro filme.
   Preenchendo os requisitos do filme de terror, tem uma realização tensa e precisa, que varia apropriadamente o seu ponto de vista por forma a acompanhar com a maior secura as tribulações de um jovem negro, Chris Washington/Daniel Kaluuya, durante o fim de semana em casa dos pais da namorada branca, Rose Armitage/Allison Williams.
   Os pais desta, Missy/Catherine Keener e Dean Armitage/Bradley Whitford, são suficientemente assustadores nos seus actos (o hipnotismo) e nas suas palavras para porem o protagonista se sobreaviso quanto às suas intenções, mas tarde demais no decurso da festa anual da família com os seus amigos, em que avulta Andrew Logan King/Lakeith Stanfield, também negro que acompanha uma branca mais velha.
  Com todos os conjurados na casa e redondezas, os empregados Georgina/Betty Gabriel e Walter/Marcus Henderson encarnam o projecto e o que espera Chris. Mas parte importante do interesse do filme passa pelos diálogos não-convencionais a que há que estar atento.
                     get-out2
    Chris safa-se no último instante porque tem um amigo que lhe ficara em casa com o cão, Rod Williams/LilRel Howery. Mas o percurso até aí chegar, repleto de pequenos episódios muito bem tratados, com suspense, está muito bem descrito e definido.
    A referência a "Adivinha Quem Vem Jantar"/"Guess Who's Coming to Dinner", de Stanley Kramer (1967), o clássico "bem comportado" sobre o problema racial americano, figura para ser completamente dinamitada. Os tempos são outros e é preciso desmontar os clichés sobre ele construídos.
   Percebe-se uma certa ingenuidade conceptual e a vontade de fazer de acordo com o gosto dominante, mas "Foge" é um filme de género bem esgalhado que funciona muito bem, com subtexto racial incluído, como primeira obra. Atenção a Jordan Peele mas também ao produtor Jason Blum.
   Com a vantagem de não se alongar excessivamente, é um primeiro filme promissor que não se deve perder.
   Visto na mesma semana em que o Arte (quem senão ele...) mostrou uma preciosidade muda, "Within Our Gates" de Oskar Micheaux, argumentista, produtor e ralizador negro (1919), um dos primeiros filmes americanos interpretados por actores negros e uma réplica a "O Nascimento de Uma Nação"/"The Birth of A Nation" de David W. Griffith (1915) que causou escândalo na época (por causa da violência).   

Sem comentários:

Enviar um comentário