quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Ao correr dos anos

   Do americano Todd Solondz, conhecido e apreciado sobretudo por "Felicidade"/"Happiness" (1998) e "Palindromes" (2004), chega-nos agora "Wiener-Dog - Uma Vida de Cão"/"Wiener-Dog" (2016), que acompanha os diferentes donos do cão do título em quatro episódios, o que não é inédito nem sequer raro no cinema.
   A originalidade advém neste filme do facto de os respectivos proprietários terem idades crescescentes: um rapaz, Remi/Keaton Nigel Cook, uma jovem mulher com um amigo, Dawn Viener/Greta Gerwig, um professor de cinema frustrado que envelhece, Dave Schmerz/Danny DeVito, e uma idosa com uma neta, Nana/Ellen Burstyn.
                      http://www.zekefilm.org/wp-content/uploads/2016/07/weinerdog4.jpg
    A partir de argumento seu, o cineasta procede a sucessivas observações cáusticas sobre a vida americana: uma família modelo, uma família bizarra e destroçada, um professor antigo e o ensino do cinema, uma neta com um namorado artista em princípio de carreira que visita a avó para lhe pedir dinheiro.
   Com o cão como elemento de continuidade, o cineasta faz as suas personagens enfrentarem a ideia da morte em cada episódio a que imprime coerência própria e de que faz parte do todo final. Mas o privilégio de contar com a grande, a lendária Ellen Burstyn no último episódio, com grandes óculos escuros que ela no final retira para mostrar o seu rosto no melhor momento de todo o filme em que, ao falar consigo própria, ela fala com as outras personagens mais novas em sonho, justifica em última análise este "Wiener-Dog - Uma Vida de Cão", que tem como epílogo, seis meses depois, uma gracinha "artística" sobre "a vida depois da morte". 
    Quando usa de subtileza, como neste filme, Todd Solondz faz em termos pessoais melhor o que outros se limitariam a fazer correctamente.

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