quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Mais poesia

     É uma pequena editora predominantemente de poesia que atingiu há pouco a sua centésima edição. Chama-se Averno e merece aqui a minha especial atenção.
     Num mundo editorial dedicado predominantemente a ficção, leia-se best-sellers - com alguns bons livros, reconheça-se -, esta editora dedicou-se à poesia a partir dos auto-intitulados "poetas sem qualidades". Dirigida por Manuel de Freitas e Inês Dias, que também dirigem a revista "Telhados de Vidro", tem-se dedicado a publicar, sempre em edições reduzidas, alguns poetas portugueses recentes, alguns antigos e alguns poetas estrangeiros traduzidos.
     Há um declarado amor naquilo que fazem, no que eles próprios escrevem e no que publicam, que é alheio a especulações, favores ou prebendas e lhes permitiu delimitar um reduto literário e cultural muito importante nos nossos dias. Com um grafismo sempre muito original e muito bom, com capas assinadas por outros nomes de referência. 
     Em termos poéticos aquilo que a Averno publica pressupõe sempre antecedentes literários, um grande bom gosto e um completo alheamento em relação às correntes culturais e literárias dominantes. Com a sua história, a editora é já, ela própria, uma corrente indispensável e importante da cultura e da literatura portuguesa que não pode ser ignorada.
                                
    Inspirados e influenciados por alguns grandes nomes da geração anterior, como Joaquim Manuel Magalhães e João Miguel Fernandes Jorge, e praticando sempre uma rigorosa independência, sem beneficiar de apoios ou patrocínios dedicaram-se à defesa das livrarias em extinção com a revista "Cão Celeste" e foram depois disso erradicados das grandes superfícies, o que diz muito delas e deles.
   Cabe-me felicitar a Averno neste momento por aqui ter chegado - a edição nº 100 é "Hotel Zurique" de João Almeida - e pelo percurso que, com grande determinação e desassombro, descreveu, que continuo a acompanhar com toda a atenção. E aconselho-a incondicionalmente.
    Não é preciso ler tudo mas façam no catálogo, aqui
http://editora-averno.blogspot.pt/
as vossas escolhas. Perguntem pelos seus livros nas livrarias que frequentam e deixem lá o pechisbeque do audiovisual português, que tantos adeptos tem, os que quer e os que merece. Há um século a Orpheu, hoje a Averno, que já tem uma história de 14 anos e conta nela os seus mortos - Olímpio Ferreira (1967-2007).
    Faço votos por que mantenham a mesma linha de rumo e prosperem como merecem no futuro.

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