segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Rir e pensar

   Jerry Lewis (1926-2017) foi o mais importante autor e actor de comédia do cinema americano do pós-guerra.
   Na tradição dos grandes cómicos do cinema mundo, criou uma personagem destravada, tipicamente americana, em filmes inicialmente dirigidos por outros, como Norman Taurog, em que por vezes emparelhou com Dean Martin. Destacou-se, ainda nos anos 50, em filmes de Frank Tashlin, como "Jerry Ama-Seca"/"Rock-a-By Baby" (1958) e "Cinderelo dos Pés Grandes"/"Cinderfella" (1960), a partir da década seguinte em filmes dirigidos por ele próprio.
   Foi brilhante como actor e sobretudo quando também realizador, com ideias modernas sobre o cinema e sobre a comédia, jogando permanentemente em perda com o outro sexo, como em Hawks acontecia, sobretudo quando elas proliferavam, numa auto-irrisão cómica e caricatural, como em "O Homem das Mulheres"/"The Ladies Man" (1961) e "As Noites Loucas do Dr. Jerryll"/"The Nutty Professor" (1964). 
                     
    Actor de grandes recursos, situa-se ao nível de Jacques Tati, i. e., do melhor do seu tempo. Foi largamente reconhecido e celebrado tanto na Europa e como nos Estados Unidos, onde que se tornou uma lenda. No exagero controlado das situações e da personagem, na sua mímica física e fiosonómica própria esteve o segredo do seu sucesso, em especial nos filmes que dirigiu desde "Jerry no Grande Hotel"/"The Bellboy" (1960) a "Jerry 8 3/4"/"The Patsy" (1964), de "Jerry e os Seis Tios"/"The Family Jewels" (1965) a "Onde Fica a Guerra?"/"Which Way to the Front?" (1970), mais tarde a partir de "The Day the Clown Cried" (1972), mítico e inédito.
   Frequentemente presente na escrita dos seus próprios filmes - nomeadamente em parceria com Bill Richmond -, de que foi por vezes produtor, trabalhou também para a televisão e retirou-se como realizador no início dos anos 90. O seu humor não era gratuito, já que no seu esbanjamento do gag visual era inteligente e fazia-nos em cada filme pensar enquanto filmicamente pensava o próprio cinema. Embora esquecido nas últimas décadas. é inquestionável o seu lugar cimeiro na história do cinema.

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