sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Uma vida em perda

    Depois de Alexandre Astruc em "Uma Vida"/"Une vie" (1958), o bretão Stéphane Brizé, que já tinha sido responsável por "A Lei do Mercado"/"La loi du marché" (2015), realizou "A Vida de Uma Mulher"/"Une vie" (2016) a partir da mesma novela de Guy de Maupassant, com argumento seu e de Florence Vignon.                                 
    O filme de Astruc contava com Maria Schell no papel da protagonista, que agora cabe a Judith Chemla, e com uma leitura diferente a narrativa é típica do século XIX, com um casamento apalavrado pelos pais de Jeanne, o barão des Vauds/Jean-Pierre Daroussin e a baronesa des Vauds/Yolande Moreau. 
    O marido, Julien De Lamare/Swann Arlaud, faz as suas tropelias e faz-lhe um filho, que mais tarde vai fazer a vida negra à mãe, e é o desenrolar da vida de uma aristocrata, que não fez nada para o ser mas permanece como tal até ao fim, em decadência e em perda aquilo que nos é dado a ver - quantas vidas portuguesas como a dela não conheci.
                                 http://filmfactory.fr/wp-content/uploads/2016/10/une-vie.jpg
   Com uma boa construção dramática, muito assente nos diálogos, alguns deles centrais nomeadamente os de Jeanne com os dois párocos, belas elipses e muita atenção dedicada à terra em que ela mexe para semear e para recolher, mas também ao fogo, à agua e ao ar, o mais recente filme de Stéphane Brizé não desilude, com fotografia de Antoine Héberlé, que trabalha muito bem a luz do noroeste da França e a noite, montagem de Anne Klotz e música de época francesa.                               
   Guy de Maupassant, mais conhecido por ter sido o autor de "Bel Ami" e que já inspirara Jean Renoir para "Passeio ao Campo"/"Partie de campagne" e John Ford para "Cavalgada Heríca"/"Stegecoach" entre muitos outros, continua a inspirar com a sua escrita sentimental e naturalista o cinema francês. E Brizé volta a dar muito boa conta de si, respeitando o espírito do século XIX e explorando-lhe os resquícios com sobriedade e grandes actores.
   Para maior esclarecimento sobre o passado do cinema francês, uma das mais importantes e influentes cinematografias europeias e mundiais, aconselho "Uma Viagem pelo Cinema Francês com Bertrand Tavernier"/"Voyage à Travers le Cinéma Français", de Bertrand Tavernier (2016), ainda em cartaz.

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