domingo, 3 de fevereiro de 2019

Culpado

    Com argumento de Nick Schenk baseado num artigo de Sam Dolnick no The New York Times, "Correio de Droga"/"The Mule" de Clint Eastwood (2018) é um belo filme sério e dramático que brinca com o seu protagonista, Earl Stone/C. E (a descoberta da carga do seu carro, a garrafa térmica que mais tarde deixa para trás), o qual tenta ironizar com os outros numa situação que ele descobre afinal grave.
    Correio de droga para um cartel mexicano liderado por Laton/Andy Garcia, ele é um velho só que falhou na sua vida familiar e não tem mais a que se agarrar, e esse lado solitário e abandonado da personagem está muito bem dado pelo actor, conquanto mesmo com isso o realizador ironize. Depois de falhadas a filha e a neta, ele apenas chega a tempo da morte da sua mulher, Mary/Dianne Wiest, de quem ouve ainda as últimas palavras sobre amor e dor.
    Falso melodrama, depois de uma aturada perseguição policial liderada por Colin Bates/Bradley Cooper "Correio de Droga" resolve-se como melodrama quando em tribunal o protagonista se apresenta como culpado. Para acabar a fazer jardinagem na prisão como fazia fora dela no início. Eastwood está perfeito como Earl Stone, rude e simples homem do passado que consegue impor-se a si próprio e aos outros apesar de preso e condenado.         
                     
      Há um desprendimento e um modo de auto-ironia no cineasta-actor que o caracteriza e lhe fica bem neste filme que é o seu melhor desde "Sniper Americano"/"American Sniper" (2014). Reconhecido o fracasso do protagonista como homem de família há que preservar-lhe a dignidade como fora da lei, o que é plenamente conseguido, mesmo se à custa da minimização de outras personagens, tornadas meramente funcionais.
      E é muito bem visto ele interpretar neste filme um homem perseguido pela lei por um tráfico de que ele acaba por ter conhecimento e que não larga, o que lhe confere uma densidade dramática a que o actor acrescenta dignidade interior. Sem compadecimentos lacrimejantes, ele volta aqui ao fundo do fracasso e da dor.
      O filme conta com fotografia de Yves Belanger, música de Arturo Sandoval e montagem de Joel Cox. Noto que Clint Eastwood, o grande clássico americano da actualidade, dirigiu e interpretou este filme com uma idade invulgar mesmo entre os grandes nomes do cinema clássico americano.

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